22/11/2013 - 21:00
Desde criança, o investidor profissional Renato Schindler é fascinado por moedas de ouro. Com o passar dos anos, porém, o sonho de nadar em uma piscina como a do personagem de quadrinhos Tio Patinhas deu lugar à vontade de ganhar dinheiro com os ativos. Uma fatia significativa de seu patrimônio “não revelado ” está investida em ouro e imóveis. O desempenho tem sido reluzente: Schindler viu a sua carteira render 300% nos últimos dez anos. “A estratégia é simples: compre na baixa e venda na alta”, diz. No entanto, o desempenho exorbitante não se justifica simplesmente pelas operações acertadas. O investidor recebeu uma mãozinha da crise econômica.
Conhecido como proteção patrimonial em tempos de crise, o ouro voltou a ser um porto seguro para os investidores – bancos centrais incluídos – que sofreram com a quebra do Lehman Brothers, em 2008. Não por acaso, o metal foi o ativo mais rentável no auge da turbulência financeira. As cotações em Nova York chegaram ao máximo de US$ 1.900 por onça-troy (31,1 gramas) em setembro de 2011, após os atentados terroristas de 11 de Setembro. Passados cinco anos do início da crise financeira, o ouro continua em patamares elevados. Fechou cotado a US$ 1.275 em Nova York na terça-feira 19.
No entanto, os especialistas acreditam que há espaço para novas altas. “O ouro teve um ano difícil, os preços não haviam caído desde 2000”, afirma Ernesto Rahmani, sócio-diretor da Tática Asset Management. No ano, até 19 de novembro, as cotações em Nova York caíram 24,5%, ao passo que o preço do grama negociado na BM&FBovespa recuou 16,6%. “As nuvens sobre os Estados Unidos começaram a se dissipar e, com isso, todos os indicadores melhoraram”, diz Rahmani. A queda foi amplificada por temores de uma inundação do metal no mercado. No início do ano, a crise da dívida europeia ameaçou quebrar os bancos da ilha de Chipre.
Contra a corrente: megainvestidor John Paulson: ânimo para as compras
A perspectiva de que o banco central cipriota usasse suas reservas para fazer dinheiro rápido e honrar os seus compromissos assustou os investidores. “O medo era de que mesmo economias mais robustas, como a de Portugal, seguissem o mesmo caminho”, afirma Edson Magalhães, diretor de operações da corretora paulista Reserva Metais. Influenciados por esses movimentos, grandes investidores como George Soros, cuja fortuna está avaliada em US$ 20 bilhões, anunciaram que iam vender seu ouro. Isso provocou um inevitável efeito manada. A demanda pela commodity caiu 37% no terceiro trimestre, segundo um relatório do World Gold Council divulgado no início de novembro.
Com isso, as compras de ouro, tanto como investimento quanto para usos industriais, médicos e decorativos, recuaram de US$ 58,4 bilhões, entre julho e setembro de 2012, para US$ 37 bilhões no mesmo período de 2013. Apenas os resgates dos fundos dedicados ao metal com cotas negociadas em bolsa, os Exchanged Traded Funds (ETFs), representaram vendas de US$ 5 bilhões nesse período. O bilionário americano John Paulson, fundador da Johnson & Co, foi um dos que fizeram esse movimento. Gestor de fundos de hedge, Paulson é conhecido pelas tacadas certeiras e arriscadas.
Vendas dos fundos fizeram as cotações cair 37% neste ano,
mas os prognósticos são de alta de preços em 2014
Ele apostou contra o mercado imobiliário americano em 2007 e lucrou US$ 3,7 bilhões. O executivo, cuja fortuna chega a US$ 11,4 bilhões, continua um entusiasta da commodity, mesmo que ela tenha feito sua fortuna emagrecer US$ 1 bilhão neste ano. O megainvestidor espera que a inflação volte a subir com a retirada dos estímulos monetários pelo banco central americano. “Além disso, ele é republicano; então, sempre vai apostar contra a administração de Barack Obama”, completa Magalhães. Nesse cenário, o investidor deve seguir os passos de Soros ou apostar em uma recuperação como Paulson? Segundo os especialistas, é hora de aproveitar o preço baixo e comprar.
“O ano que vem deve ser turbulento devido à redução da ajuda americana aos bancos, o que deve afetar o câmbio e fazer o ouro subir de preço no Brasil”, diz Rahmani. Isso porque a cotação em bolsa depende do preço internacional e do dólar. “A sugestão não é que o investidor compre toda sua carteira em ouro, mas algo entre 5% e 10% da carteira; assim, terá menos volatilidade.” Não são apenas os eventos externos que devem determinar o preço do metal no ano que vem. O fato de o Brasil ter eleições pode elevar o câmbio. “Espero o dólar acima de R$ 2,50 e há espaço para a valorização do ouro lá fora”, diz Magalhães. Schindler concorda. “Acho que o ouro continuará subindo; afinal, todo mundo precisa de uma apólice de seguro.”