Por Angelo Verotti

RESUMO

• Empresa pioneira no transporte de valores diversifica serviços e cresce
• Conhecida por seus carros-fortes, marca americana, criada a 165 anos, tem responsabilidade sobre 3% do PIB brasileiro
• No País, a Brink’s tem 70% da receita ligados aos setor financeiro e ao varejo
• Aparecimento de bancos e carteiras digitais fez a companhia buscar novas soluções além do mundo físico
• CEO pede nova regulamentação, para baratear custo na cadeia de serviços

 

Sim, o dinheiro na imagem é real. Parte dos R$ 11,5 milhões reservados para a sessão fotográfica. Um valor irrisório frente aos cerca de R$ 270 bilhões que ficam sob custódia da Brink’s Brasil ao longo de um ano. O montante corresponde a 3% do PIB nacional, que em 2022 atingiu R$ 9,9 trilhões. Uma das responsabilidades assumidas pela companhia fundada em 1859, nos Estados Unidos, e que atua no País desde 1966.

A empresa é pioneira no transporte de valores, mas diante da transformação dos negócios pelo mundo tem ampliado o leque de serviços e soluções aos clientes, movimento que a levou a um faturamento global de US$ 4,5 bilhões em 2022 e à previsão de 10% de crescimento este ano. A proposta do CEO da Brink’s Brasil, Marcelo Caio D’Arco, é mostrar que o trabalho realizado pela multinacional não se restringe a carro-forte. “A exemplo de todo o mercado, a Brink’s vem em um processo de transformação, de apresentar aos clientes as outras soluções que vende”, disse à DINHEIRO o executivo.

Criada há quase 165 anos por Washington Perry Brink, em Chicago, a Brink’s iniciou as atividades com o transporte de caixas e bagagens de homens de negócio. A primeira entrega bancária, de seis sacos de dólares de prata, ocorreu apenas em 1900, o que tornou a empresa a primeira transportadora de valores do mundo.

Desde então, as transformações na área de atuação se multiplicaram e a companhia tem promovido diversas iniciativas nos 53 países com operações e nos 100 onde tem clientes.

No Brasil, 77 filiais atendem 3 mil municípios em todas as regiões. São, no total, 8 mil funcionários entre os 76,5 mil pelo planeta. “Estamos no top 5 entre as operações no mundo”, afirmou D’Arco, sem autorização para revelar a posição no ranking, além da participação da operação brasileira no faturamento global.

“O mercado brasileiro é muito importante, apesar de todo o desafio que traz”. Os dois grandes mercados atendidos pela Brink’s no País são o financeiro e o varejo, que, juntos, respondem por quase 70% da receita.

Os carros-fortes fazem parte do histórico da empresa de segurança privada, que tem hoje 1,4 mil veículos na frota no Brasil, quase 10% dos 16 mil em atuação pelo mundo

A chegada da Brink’s ao Brasil ocorreu, segundo o executivo, a pedido do governo federal, com o propósito de trazer segurança, fortalecida pela imagem de um carro-forte.

O primeiro modelo do tipo operado no País foi batizado de Brucutu – atualmente, são 1,4 mil veículos especializados entre os 16 mil em operação pelo globo.

Ao longo dos últimos 60 anos, a bandeira dominou o transporte e a guarda de valores. Porém, com a chegada da pandemia a empresa antecipou uma série de ações. A estratégia foi aproveitar a oportunidade, de olho principalmente no movimento crescente da digitalização. “Vimos aparecer os primeiros bancos e carteiras digitais. E pensamos: ‘como podemos ser os grandes preenchedores de gaps desse mercado. Ou seja, transformar o físico em digital e o digital em físico?’”, disse o CEO.

Uma das medidas foi inserir o cofre inteligente, já desenvolvido pela empresa, na Brink’s Complete, uma solução de serviços que combina hardware, software e segurança.

A Brink’s instala um cofre inteligente em um local seguro dentro da loja e todo o dinheiro depositado cai diretamente na conta corrente do lojista antes mesmo das cédulas e moedas serem retiradas pelos carros-fortes. Todo o controle é feito de forma digital e a responsabilidade pelo equipamento e valor depositado é da Brink’s.

“O cliente passa a enxergar essa solução como um serviço de assinatura e não mais um serviço por solicitação, por parada, por entrega e etc, para ficar um processo até mais controlado e inteligente”, afirmou o executivo.

Outra novidade integrada ao Brink’s Complete foi a conta digital Brink’s Pay. A empresa obteve autorização do Banco Central para operar como instituição de pagamento nas modalidades de emissor de moeda eletrônica e emissor de instrumento de pagamento pós-pago.

10%
é a estimativa de aumento da receita global da Brink’s este ano em relação a 2022, quando faturou US$ 5 bilhões

Nos últimos anos, a digitalização do setor contribuiu para uma maior redução da utilização do dinheiro como meio de pagamento. Diante disso, a Brink’s tem trabalhado para continuar a ser a empresa preferencial do cliente no processo de gestão do recebimento em dinheiro no seu estabelecimento.

“A gente realmente estima uma queda ainda maior do que já vimos até agora (no uso do papel moeda), mas não acreditamos no desaparecimento do dinheiro. Ainda temos no Brasil algumas regiões que adotam ainda mais o dinheiro, outras menos.”

Já no segmento de gestão de valores e transporte, a Brink’s Log é destaque. Reúne diversos serviços de logística exclusivos para cargas de alto valor agregado. As operações são voltadas, por exemplo, ao transporte de:
• produtos eletrônicos,
• farmacêuticos,
• moeda estrangeira,
• insumos agrícolas,
• artigos de luxo.

Isso, além da realização de processos de importação e exportação de itens de alto valor.

“A Brink’s Log faz tanto a parte internacional como nacional de solução logística para minérios, pedras preciosas, joias, dentre outros produtos que requerem uma atenção especial”, afirmou o executivo. “Evoluímos nessa divisão pegando o know-how que temos de segurança e gestão de risco.”

Além de cuidar do transporte, a empresa disponibiliza aos clientes um terminal para cargas de alto valor no aeroporto de Viracopos, em Campinas. Primeiro na América Latina, o espaço foi desenvolvido com o que há de mais recente em tecnologia de segurança e possui a mesma infraestrutura já utilizada pela companhia em outros aeroportos do mundo, como Heathrow, na Inglaterra, e Charles de Gaulle, na França.

Os investimentos da Brink’s no Brasil nos últimos três anos chegam a R$ 280 milhões, direcionados a tecnologia, equipamentos, soluções e gerenciamento de riscos.

A diversificação dos serviços prestados pela Brink’s é elogiada por Marcelo Zeferino, chief commercial officer da Prestex, empresa líder no mercado de logística emergencial aérea. Para o executivo, para que uma companhia se mantenha num nicho de mercado tão importante e delicado é invariável a necessidade de inovação, de buscar novas maneiras de atuar para seguir competitiva. “Vejo hoje que todo esse processo de expansão se dá com o mesmo nível de eficiência e de cuidado apresentado no serviço de transporte.”

Setor

O mercado de segurança privada no Brasil movimenta anualmente cerca de R$ 40 bilhões e envolve cerca de 500 mil profissionais. As multinacionais Brink’s e Prosegur (Espanha), a exemplo da brasileira Protege, são detentoras de 80% de participação.

Apesar do potencial de mercado, nem tudo é alegria. O fato de o setor ser regido por uma lei da década de 1980 é criticado por D’Arco. Ele defende a regulamentação do Estatuto da Segurança Privada, que, entre outras coisas, “poderia reduzir os custos das empresas do segmento e fazer com que a atividade fosse menos custosa ao mercado.”

Na visão do CEO, algumas normas devem ser discutidas, casos, por exemplo, da configuração de armamento utilizado; a quantidade de pessoas dentro de um carro-forte; o tipo de estrutura necessária quando se cria uma base para fazer armazenagem de valores. “Tudo isso foi definido nos anos 1980 e se manteve”, afirmou.

“A Brink’s, de maneira alguma, vai ferir lei. Mas ainda temos que agregar recurso ou estrutura adicional que hoje entendemos não são necessárias e que, querendo ou não, trazem custo adicional ao próprio mercado.” Segundo ele, várias associações encabeçam as discussões para tentar colocar o estatuto como prioridade no Congresso, ainda sem posição definida.

A questão da digitalização, na opinião dele, também é um ponto de atenção para o setor. “Temos que analisar como o ramo está se mexendo no sentido de trabalhar as questões, continuar performando e continuar sendo algo, ou seja, a solução para o mercado”, afirmou D’Arco, ao destacar também a necessidade de neutralizar os ups and downs da economia.

“Precisamos estar menos sujeitos a essas variações. Em algumas situações não conseguimos, mas nos adaptamos, nos transformamos. Em outras, buscamos regular melhor as questões para não sofrer demais com mudanças.”