Criado no início dos anos 1960, pelo então diretor comercial da Estrela, Eber Alfred Goldberg, com o apoio de Mário Adler, presidente da empresa que viria a se transformar na maior fabricante de brinquedos da América Latina, o Dia da Criança rapidamente se tornou numa das fontes de maior faturamento do setor, ao lado do Natal. 

Passadas quase seis décadas, a maioria dos meninos e meninas presenteados se tornaram avós, mas a tradição se mantém. A cada 12 de outubro,  a indústria escoa nada menos de 35% de sua produção, que somada às importações, devem representar vendas de R$ 9 bilhões no varejo, em 2016, um crescimento de 12% sobre o ano anterior,  segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq).
          
Isso faz da indústria de brinquedos um dos raros setores da economia brasileira a ter o que comemorar neste ano de paradeira brutal nas atividades. “Crescer na adversidade é uma das características do nosso mercado”, diz Carlos Tilkian, presidente da Estrela. “Por conta da perda de renda, as famílias deixam de comprar bens de maior valor, mas sempre encontram uma forma de presentear a garotada nessa data.”

No caso da Estrela, serão lançados 229 novos brinquedos, em grande parte a preços inferiores a R$ 40. Não faltarão, no entanto, opções mais sofisticadas com tíquete acima de R$ 80, representadas pela fusão de jogos tradicionais, como Banco Imobiliário e Detive, com aplicativos digitais via celulares.

Para Tilkian, o desempenho da indústria nacional está sendo turbinado pela redução de 30% das importações, propiciada pela desvalorização cambial, que afetou sobretudo os produtos made in China, conforme cálculos da Abrinq. 

Com três fábricas no Brasil (Itapira, no interior paulista, Três Pontas, no sul de Minas Gerais, e Serra do Machado, em Sergipe), a Estrela, que já chegou a importar 40% dos brinquedos comercializados com sua marca no País, reduziu essa participação a apenas 15%, a metade do verificado em 2015. 

Nos próximos anos, diz Tilkian, a dependência dos fornecedores chineses deve se reduzir ainda mais. A ideia é substituí-los pela produção de brinquedos no âmbito do Mercosul. Seus componentes serão ainda trazidos da China,é certo, mas a montagem ocorrerá num dos países do bloco regional, o que permitirá a internação dos produtos acabados no Brasil com alíquota zero.

O próprio Tilkian desenvolve um projeto pessoal, em sociedade com seu diretor de marketing, Aires Fernandes, para a instalação de uma fábrica no Paraguai, que teria como cliente principal a Estrela. “A companhia será beneficiada, com o fortalecimento de sua estratégia de oferecer produtos de qualidade a baixo custo”, diz.       

Dona de um faturamento de R$ 190 milhões, no ano passado, a Estrela, que emprega 2 000 funcionários, vê com  otimismo o futuro pós-impeachment.”Passado o turbilhão político, as expectativas, que são fundamentais na economia, devem melhorar”, diz Tilkian. “Aliás, quem trabalha com brinquedos e depende muito do Papai Noel, tem de ser otimista por definição.”