Nem governador, nem ministro, nem doutor.
Britto. Assim é chamado internamente o novo presidente do Grupo Azaléia. Ex-porta-voz da Presidência da República, ex-ministro da Previdência e ex-governador do Rio Grande do
Sul, o gaúcho Antônio Britto é o homem escolhido para substituir seu conterrâneo Nestor de Paula
no comando da maior fabricante de calçados do Brasil, com produção anual de 45 milhões de pares e faturamento de R$ 800 milhões. ?Seu Nestor?, como era conhecido no mercado o homem que fundou a Azaléia em 1958 e esteve à frente dela desde então, faleceu no último dia 23, aos 66 anos. Deixou pronto o chamado ?mapa da expansão? da Azaléia e, depois de uma má-sucedida experiência com seu braço direito, Gumercindo Moraes Neto, na superintendência da companhia, indicou Britto para superintendente e futuro sucessor. ?O programa que vou seguir não é meu, é da empresa?, disse o político convertido em executivo em entrevista à DINHEIRO.

 

É uma escolha inusual. Jornalista alçado à vida pública na esteira da morte de Tancredo Neves ? que anunciou ao País em um histórico pronunciamento ?, Britto não tem experiência administrativa prévia na iniciativa privada, a não ser pelos cargos de chefia que ocupou na TV Globo. Sua estréia no mundo dos negócios se deu na própria Azaléia, na virada de 1999 para 2000, quando, um ano depois de deixar o governo gaúcho, foi convidado a assumir uma cadeira no Conselho Administrativo do grupo. Quatro anos depois, ele está à frente da principal empresa do seu ramo na América Latina, situada entre as cinco maiores do mundo e com 16 mil funcionários na folha de pagamento. Não há ninguém acima dele na sede da companhia em Parobé (a 80 km de Porto Alegre), salvo o próprio Conselho, uma instância não-executiva que passa a ser presidida por Adelino Colombo, dono das Lojas Colombo, e contará com a presença de Paula Camila de Paula, filha do fundador e representante da família.

Britto não parece intimidado, mas tem claro o tamanho do desafio de suceder De Paula, uma figura reverenciada dentro e fora da companhia. ?A empresa vai sentir muito a falta dele, mas o Nestor encaminhou a sucessão da melhor maneira possível?, opina Elcio Jacometi, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Calça-
dos e amigo pessoal do empresário falecido. Não por acaso, a receita de Britto para dar seus primeiros passos como presidente de empresa é solidamente baseada na continuidade. Seu ?programa de governo? é do tipo pé no chão. A prioridade é manter o grupo na vanguarda tecnológica do setor, com o custo mais baixo possível e preços altamente competitivos. De resto, a companhia continua focada no fortalecimento de suas marcas (Azaléia, Dijean e Olympikus) e refratária à idéia de produzir no Brasil para concorrentes como Adidas, Nike ou Reebok. ?Quem não tem marca é que tem de trabalhar para os outros?, acredita Britto. A exceção é e continuará sendo a japonesa Asics, fabricada no País pela Azaléia. Nesse caso, argumenta o executivo, o interesse é a absorção de novas tecnologias.

Parte do ?mapa da expansão? deixado por De Paula extrapola as fronteiras nacionais, o que significa que Britto estará empenhado na conquista de novos mercados para a Azaléia. As sandálias e os tênis da companhia já estão à venda em 72 países, com presença muito forte na América Latina e penetração crescente no Leste Europeu desde a abertura de uma empresa do grupo na República Checa há três anos. O desafio agora é ganhar mercado na competitiva Europa Ocidental, mas, para isso, a Azaléia perdeu um embaixador de peso ao desfazer em setembro último a parceria da Olympikus com o tenista Gustavo Kuerten, ex-número 1 do mundo e tricampeão de Roland Garros. Pelo menos por ora, Britto diz que não há substituto em vista.