13/12/2006 - 8:00
O pedido de demissão do presidente executivo da Calçados Azaléia, Antônio Britto, não foi surpresa para o povo da cidade-sede da empresa, Parobé, no Rio Grande do Sul. O município, que deve 60% de sua receita com ICMS à fabricante gaúcha, já sabia desde junho que o ex-governador não terminaria o ano na cadeira principal do grupo. ?Existia um certo desgaste entre ele e os membros da família fundadora?, revelou um funcionário da Azaléia em Parobé. Britto havia solicitado o afastamento do cargo no dia 8 de novembro por considerar que ?a fase de transição da Azaléia estava concluída, cabendo agora definir os próximos passos em termos de governança corporativa e profissionalização?. O conselho de administração aceitou a demissão na terça-feira 5.
Britto pouco comentou as razões que o levaram a deixar a presidência assumida em janeiro de 2004, após a morte do então presidente e fundador da empresa, Nestor de Paula. Disse apenas que estava cansado e que agora irá viajar em férias com a família. O ex-governador garantiu que não irá retornar à política, embora haja comentários de que integraria a equipe de Yeda Crusius, a governadora eleita do Rio Grande do Sul. ?Vou seguir firme e convicto na iniciativa privada?, afirmou. Por enquanto, a presidência da Azaléia será ocupada pelo presidente do conselho de administração, Adelino Colombo, das Lojas Colombo. Não há prazo para a escolha do sucessor definitivo de Britto.
O ex-governador mostrou bons resultados à frente da Azaléia. No primeiro semestre deste ano, a empresa teve lucro líquido de R$ 13,5 milhões, bem mais que os R$ 4,3 milhões registrados nos primeiros seis meses de 2005. O problema de Britto, segundo empresários do setor, foi a questão China. A informação de que a Azaléia fecharia fábricas no Brasil e abriria unidades no país asiático (por conta do problema cambial) teria sido o ápice de uma crise que atingiu em cheio o ex-governador. Afinal, foi ele quem havia sugerido a opção Ásia, politicamente incorreta, de acordo com fontes próximas a Azaléia. A companhia também informou que a saída de Britto não tem relação com a reestruturação promovida nos últimos anos. Em 2005, ela fechou uma unidade em São Sebastião do Caí (RS) e, em breve, irá desativar outra em Itaporanga D’Ajuda (SE) devido à questão do câmbio, que vem minando as exportações e as finanças do grupo. Britto se queixava muito daquilo que denominou como os “4Cs”: custo Brasil, China, contrabando e câmbio. A amigos, confessou que não tinha mais o que fazer na empresa, sem que a política industrial para o setor fosse mudada.