11/04/2020 - 10:43
O dever da memória acima de tudo: 75 anos após a libertação de Buchenwald, o memorial do campo de concentração, forçado a cancelar seus eventos por causa da epidemia de COVID-19, prestou neste sábado (11) homenagem virtual às vítimas do nazismo.
Em um site acessível em alemão, inglês e francês (www.thueringer-erklaerung.de), o memorial também publica uma “Declaração da Turíngia”, na forma de uma petição em “defesa da democracia e dos direitos humanos”, num contexto de avanço da extrema direita, especialmente na Alemanha.
“Hoje, o radicalismo de direita e o autoritarismo estão em ascensão, assim como a lógica da superioridade nacional, do nacionalismo e do enfraquecimento da unidade europeia”, alerta o texto.
“O racismo e o antissemitismo se espalham abertamente e levam a atos de violência na Alemanha, o que seria impensável há alguns anos”, ressalta o comunicado.
“À luz da memória histórica, está claro que os venenos devastadores de ontem são mais uma vez aclamados como panacéia”.
– “Sejam gentis e tolerantes” –
O site também transmite testemunhos de sobreviventes do campo.
“Nem todo mundo pode ser um herói, um político, um filósofo, um altruísta. Mas todos podem respeitar a dignidade de qualquer outro indivíduo ou estender a mão para alguém em perigo”, escreve Jack Unikoski, sobrevivente polonês de 93 anos que vive atualmente na Austrália.
“Sejam gentis e tolerantes com os outros. O ódio de um grupo pode se espalhar rapidamente para os outros. A lição foi dura e também pode acontecer com você”, diz Chava Ginsburg, húngara de 90 anos que sobreviveu a Auschwitz, Bergen-Belsen e ao campo feminino de Markkleeberg, dependente de Buchenwald.
Ambos, juntamente com outros 40 sobreviventes de 14 países, estavam entre os convidados que confirmaram sua presença nas celebrações originalmente planejadas para os dias 5 e 7 de abril nos campos de Buchenwald e Mittelbau-Dora.
Entre sua criação em 1937 e sua libertação em abril de 1945 por seus próprios prisioneiros, cerca de 56.000 pessoas morreram em Buchenwald e mais de 20.000 em Dora, criado em agosto de 1943 como uma dependência do primeiro e destinado à fabricação de mísseis V2.
As muitas manifestações planejadas ao longo de vários dias para marcar o aniversário da libertação desses dois campos foram canceladas devido à epidemia de coronavírus.
As cerimônias serão adiadas para 2021, disse o diretor do memorial, Volkhard Knigge. Ele convidou, porém, o público a vir e colocar flores na entrada dos dois campos, “respeitando as regras do distanciamento social”.
– Atentados de extrema direita –
Outros memoriais também preveem tributos semelhantes on-line nos próximos dias, como os de Ravensbrück, Sachsenhausen ou mesmo Bergen-Belsen.
“O bem que pode ser encontrado em todo mal é que os humanos se redescobrem. Podemos fazer algo por nós mesmos novamente, ajudar um ao outro, nos divertir juntos”, diz Eva Fahidi-Pusztai, húngara de 94 anos.
“É muito mais fácil sobreviver a crises na alegria e no bom humor. Pode acreditar em mim. Tenho muita experiência nesse assunto”, acrescentou esta sobrevivente de Auschwitz e Buchenwald no site.
O 75º aniversário da libertação de Buchenwald acontece no contexto de um aumento de ataques racistas e antissemitas na Alemanha, que registrou três ataques de extrema direita em menos de um ano.
Em fevereiro, em Hanau (centro), um extremista de direita matou nove pessoas. O ataque ocorreu após uma tentativa de ataque a uma sinagoga em Halle, no outono passado (dois mortos), e do assassinato de um político que defendia os direitos dos migrantes, membro do partido conservador da chanceler Angela Merkel em junho de 2019.
A Inteligência Interna alemã alertou que o terrorismo de extrema direita e o extremismo de direita “atualmente representam o principal perigo para a democracia” na Alemanha.