29/03/2021 - 12:37
Cientistas australianos anunciaram a detecção de uma espécie muito rara de buraco negro, de tamanho intermediário, por uma técnica inédita que traiu sua presença – revela estudo de físicos australianos publicado nesta segunda-feira (29), na Nature Astronomy.
“Esta é a primeira prova da existência de um buraco negro de tamanho intermediário de tal massa”, atingindo a de 55 mil sóis, disse à AFP James Paynter, aluno de doutorado da Escola de Física da Universidade de Melbourne.
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Se a descoberta for confirmada, ela preencherá um vazio que é intrigante para os especialistas da física dos buracos negros. Teorizado por Einstein, esse objeto concentra sua matéria com tal densidade que impede até mesmo a luz de escapar de sua força gravitacional.
Até hoje, conhecemos apenas duas famílias, de tamanhos radicalmente diferentes.
Uma delas é composta dos buracos negros estelares, formados pelo colapso gravitacional de uma estrela massiva ao final de seu tempo de vida, cuja massa é de até dez a do nosso Sol.
E, na outra extremidade, estão os ogros que espreitam o coração de cada galáxia, os buracos negros supermassivos. Como “aquele que está no centro de nossa Via Láctea, que possui alguns milhões de massas solares”, explica à AFP o vice-diretor do Instituto de Radioastronomia Milimetrada, Frédéric Gueth. Os mais massivos alcançam vários bilhões de massas solares.
– Alvo promissor? –
Logicamente, “portanto, nos perguntamos se haveria buracos negros de massa intermediária”, acrescenta o astrofísico. E se estes não desempenham um papel na gênese de seus congêneres supermassivos.
Os autores do estudo observam que os sinais de sua existência vêm-se acumulando há alguns anos. Cientistas anunciaram em setembro passado a descoberta de um primeiro buraco negro de massa intermediária, de apenas 145 massas solares.
“Isso perturba a todos, porque procuramos algo da ordem de grandeza entre dezenas e milhões de massas solares”, observa Frédéric Geth.
Os australianos teriam atingido um alvo mais promissor? Eles o identificaram, analisando os dados de explosão de raios gama. Esses flashes de luz extraordinariamente poderosos vêm de eventos como a explosão de estrelas massivas.
Um deles, o GRB 950830, aparentemente teve um encontro no caminho para a nossa Terra, de seu local de emissão, a bilhões de anos-luz de distância, “nas primeiras idades do Universo”.
Seu sinal de luz foi gravado com uma espécie de eco, causado por sua passagem perto de um buraco negro, que agiu como uma “lente gravitacional”: a massa do buraco negro é tão grande que distorce a estrutura do espaço-tempo e dobra o trajeto de luz passando em sua proximidade, dobrando-o.
– “Buraco negro primordial” –
É a medição desse deslocamento que teria permitido revelar a presença do buraco negro e de sua massa teórica.
“Estimamos que possa haver 40.000 buracos negros intermediários em nossa galáxia”, disse à AFP a professora Rachel Webster, astrofísica e coautora do estudo.
Para seu colega Eric Thrane, da Universidade Australiana Monash, poderia se tratar de um “buraco negro primordial”, criado na infância do Universo.
Com uma massa enorme, esses objetos poderiam ter sido “os precursores de buracos negros supermassivos”, cuja origem permanece inexplicada, escreveu ele em um comunicado à imprensa.
Resta confirmar essa descoberta para torná-la indiscutível. Porque, como Geth observa, se os buracos negros de massa intermediária existem, “o fato de não termos realmente observado nenhum até agora indica que não há muitos, e que eles são formados em circunstâncias extremamente específicas”.