A alta sociedade paulistana cultiva há décadas uma imagem de moderna, cosmopolita e liberada. Agora, terá a chance de provar que isso não é mera fachada. Uma sex shop de luxo será inaugurada em maio em plena Alameda Lorena, no coração do elegante bairro dos Jardins ? um dos mais tradicionais centros comerciais e gastronômicos da cidade. Mais surpreendente ainda: por trás do projeto estão duas amigas de sobrenomes bem conhecidos. Uma delas, Izabel, é uma Collor de Mello, filha de Leopoldo e sobrinha do ex-presidente Fernando Collor. A outra, Patrizia Curi, pertence a um tradicional clã árabe-brasileiro e há quatro anos está à frente da revista da Daslu (meca do consumo de chique em São Paulo). Juntas, as publicitárias-socialites criaram a butique erótica Maison Z. Apelidada pelas próprias sócias de ?Disneylândia do Prazer?, a loja vai ocupar um belo sobrado ao lado do restaurante Laurent, quase em frente ao Antiquarius ? dois ícones da boa mesa em São Paulo. Seu cardápio, porém, vai ser bem mais apimentado: DVDs eróticos, lingerie, objetos fálicos de porcelana, velas e, como peça de resistência, 10 mil opções de ?brinquedinhos sexuais?. Quase tudo importado, com sofisticação e preços de primeiro mundo para a clientela VIP que Izabel e Patrizia querem ver circulando, sem vergonha, em sua loja.

Homens são mais do que bem-vindos, mas as sócias acreditam que sua clientela será majoritariamente feminina. É natural, visto que as mulheres já respondem por 80% do movimento das sex shops no Brasil ? um dos segmentos importantes do chamado mercado erótico, que gira R$ 700 milhões por ano. As jovens empresárias acham, porém, que a clientela mais endinheirada está carente de opções neste mercado. ?Todo mundo que viaja para Nova York vai a uma sex shop. Inclusive eu?, diz Patrizia, que há cinco anos sonha em abrir a loja. O sonho começou a virar realidade depois de um encontro com Anita Rodick, fundadora da empresa britânica de cosméticos The Body Shop, cuja filha abriu em Londres um ?boudoir chic? com grande sucesso. Com estabelecimentos como esses na linha de frente, o varejo de produtos sexuais movimenta US$ 10 bilhões mundialmente.

 

E não pega mal para duas moças da sociedade vender ?brinquedinhos eróticos?? ?Pouco nos preocupa o que os outros vão achar?, desdenham as moças. Izabel garante que sua decisão de trocar a carreira de cinco anos na área de marketing da Nestlé por este ousado em-
preendimento foi bem assimilada pela família. ?Titio diz que vem à inaugu-
ração. Mas ele ainda não sabe exatamente do que se trata?, diver-
te-se ela. Carioca, 26 anos, Izabel nunca trabalhou nos negócios da família e não se anima a seguir os passos de seu ramo político. ?Até curto política, está no sangue. Mas não vou entrar nessa. Esse meio é muito pesado?, diz. Patrizia teve mais trabalho com a família. ?Meu pai é árabe, tem 64 anos e achou tudo isso muito esquisito?, diz.

Depois de estudar o mercado, Izabel e Patrizia concluíram que as sex shops existentes em São Paulo são mal-localizadas e ?cafonas?. Na loja delas, o padrão será papel de parede adamascado, móveis de antiquário e visual anos 20, inspirado no Moulin Rouge, o famoso cabaré parisiense. Por enquanto, nada de cintos de couro, roupas de vinil e outros itens sado masoquistas. ?Queremos um público audacioso, mas que tenha classe?, diz Patrizia. ?Gente bem resolvida, que compra um produto erótico como compra uma bolsa Louis Vuitton.? Carolina Cleto, estilista brasileira recém-chegada da Itália, desenhará uma linha de roupas femininas ?super- sensuais? para a Maizon Z. Com um conceito semelhante, a sex shop Beate Uhse, criada na Alemanha em 1962, virou rede e até abriu seu capital. O lançamento de ações na Bolsa de Frankfurt atraiu investimentos de US$ 60 milhões. Se os alemães podem….