12/10/2005 - 7:00
Um jovem de apenas 27 anos, responsável por uma empresa de gestão de recursos pouco conhecida, pôs o mercado financeiro em polvorosa ao atravessar, na semana passada, uma das maiores negociações acionárias do setor siderúrgico. A Tarpon Investimentos, de São Paulo, dirigida por José Carlos Reis de Magalhães, ofereceu R$ 876 milhões pelo controle da brasileira Acesita, maior produtora de aço inoxidável da América Latina. O controle da empresa está em mãos de uma constelação de fundos de pensão e vinha sendo perseguido pela Arcelor, a multinacional francesa de US$ 36 bilhões que disputa a liderança da siderurgia mundial. Em 30 de setembro os franceses ofereceram R$ 42,28 por ação da Previ e da Petros, que detém 24,67% da empresa. A Arcelor é dona de 38,94% das ações da Acesita desde 1998 e com essa operação conquistaria o controle (63,61%). Então veio a surpresa. Em um movimento totalmente inesperado, a Tarpon entrou no circuito propondo R$ 45 por ação. Não só as ações dos fundos, mas também os papéis dos franceses e dos funcionários da empresa. No total, sua proposta cobre 78% do capital votante da Acesita. ?O que nos motivou foi a enorme divergência de avaliação entre as partes?, disse à DINHEIRO o jovem Magalhães. ?Como eles negociavam há meses sem chegar a um acordo, propusemos um valor intermediário. Somos um facilitador.?
A empresa que pode dar uma rasteira nos franceses foi criada em 2002 com ?fundos familiares?, em uma espécie de incubadora no interior da corretora Hedging Griffo. Hoje administra investimentos de terceiros no valor de R$ 550 milhões. Sua especialidade é comprar ações subvalorizadas na Bolsa e trabalhar com elas no longo prazo, ao estilo do magnata americano Warren Buffet. Nos últimos dois anos os fundos da Tarpon tiveram excelente desempenho, mas em 2005 os resultados estão ruins. Um investidor diz que eles chegaram a cair 30% e agora estão em menos 6%. Tocada por um grupo de jovens que mistura talento, agressividade e fortuna hereditária ? um dos sócios é Pedro de Andrade Faria, filho de Gilberto Faria, o dono do antigo Banco Bandeirantes ? a Tarpon tem como mentor o veterano Luiz Alves Paes de Barros, tio de Magalhães. Presidente do conselho da empresa, ele é conhecido no mercado como investidor habilidoso e dono de grande fortuna pessoal em ações. Seu sobrinho, o Zeca, é um fenômeno do mercado financeiro. Começou a trabalhar aos 17 anos, formou-se pela Getúlio Vargas de São Paulo e antes de fundar a Tarpon passou como estagiário pelo gestora de investimentos GP e pelo banco Patrimônio. Alto, com porte atlético, deixou atrás de si a imagem de um profissional ?brilhante, muito analítico, trabalhador e maduro? para a sua idade. ?A Tarpon é uma gestora de recursos nova, tocada por um jovem, mas que tem por trás um conselho formado por gente com vasta experiência de mercado?, define Marcelo Franco, sócio da Claritas Investimento.
Mas será que esses garotos atrevidos vão arrebatar a Acesita? O mercado duvida. Um parte dos especialistas acredita que a Tarpon entrou no negócio apenas para melhorar o preço dos franceses, em favor dos fundos de pensão. Outro grupo acha que a gestora de fundos é apenas fachada de um grande grupo empresarial que quer comprar o controle da Acesita sem expor-se ao leilão. Magalhães diz que não é nada disso. Conhecedor da companhia, cujas ações detém há dois anos, ele afirma que a Arcelor está infeliz com o mercado de aço inoxidável e pronta a se desfazer do ativo. Com a brutal elevação dos preços do níquel, sua principal matéria-prima, a produção de inox encareceu demais, enquanto a margem de venda foi achatada pelo aumento de capacidade promovido na China. ?Como estamos oferecendo um bom preço, a Arcelor pode achar melhor vender?, pondera. Magalhães admite que representa ?outros investidores? na negociação, mas diz que, se vier a ganhar, será o gestor da Acesita. ?Estamos prontos para assumir a companhia?, sustenta. Enquanto as negociações seguiam, executivos mais calejados babavam de inveja com a ousadia da garotada. Os meninos da Tarpon perceberam uma oportunidade que ninguém mais viu, organizaram um grupo de investidores e fizeram uma oferta que, embora melhor que a dos franceses, ainda é excelente para os compradores. Muitos no Brasil ainda não sabem quem é a Tarpon, mas desde a semana passada o poderoso Guy Dollé, presidente da Arcelor, já sabe.
Com reportagem de Aline Lima
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Perfil da Acesita
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Quem é a Tarpon Invest
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