22/05/2025 - 7:00
Segundo a CEO do Grupo CRM – detentor da Brasil Cacau e Kopenhagen -, Renata Vichi, a crise do cacau fez a indústria chocolateira ter mais prejuízos do que a pandemia de Covid-19.
+Como a crise global do cacau fez os preços do chocolate disparar
A executiva da Kopenhagen relata ao Dinheiro Entrevista que a inflação do cacau tornou inviável um repasse de preços ao consumidor.
“Foi o maior pivô rígido da minha trajetória profissional. Para nós da indústria chocolateira foi um período mais crítico até do que o próprio Covid-19. Diferentemente do Covid, onde todos estavam na mesma situação, nesse momento apenas as grandes indústrias de chocolate se encontravam nessa situação, então pense que no viés do consumidor ele pode simplesmente substituir o chocolate, principalmente para quem atua dentro da área de presentes, como é o caso da Kopenhagen, que é uma marca premium e está associada a presentes.”
“Nos mantermos competitivos foi extremamente importante. Apesar do chocolate ter ficado mais caro, era impossível repassar o preço. O cacau teve uma inflação 300%. Estamos falando de uma alta histórica. Eu nunca vi nesses 30 anos [de atuação no mercado] o cacau bater US$ 12 mil a tonelada. A gente começou precificando a US$ 4,5 mil, sendo que historicamente era US$ 2,5 mil, [agora] vemos uma tendência de voltar para US$ 6 mil, mas que ainda é muito acima do patamar histórico”, completa Renata Vichi.
A executiva ressalta que, mesmo nesse contexto de alta do cacau a empresa considerou inegociável a receita dos produtos.
A executiva relata que a empresa segue com foco em ‘levar memória afetiva’ aos clientes, frisando a longevidade de chocolates como a língua de gato, no mercado desde 1940. A tese é de que ‘as crises passam e as relações ficam’, então nunca se cogitou baratear os chocolates da marca.
O caminho foi ‘buscar eficiências internas’ sem mexer nas formulações, incluindo compra conjunta de cacau com a Nestlé, por exemplo.
“Com isso garantimos até mesmo o abastecimento, porque temos o risco aqui como industriais até mesmo do fornecimento, existia uma demanda maior e uma das razões da commodity ter sofrido essa inflação sem dúvida é essa relação de oferta e demanda”, explica.
Sobre a continuidade da crise, Vichi vê um cenário mais positivo para os próximo anos.
“Já passamos a ‘arrebentação’, a fase mais crítica e agora seguimos vendo um cenário para 2026 e 2027 um pouco melhor do que foram os anos de 2024 e 2025”, diz.
Segundo Vichi, nos últimos três anos a companhia dobrou de tamanho e se aproximam de R$ 2 bilhões em geração de receita líquida.
‘No chocolate da Kopenhagen ninguém mexe’
A executiva ainda relata que mesmo com a empresa trocando de mãos algumas vezes ao longo dos seus 98 anos de história, as receitas e fórmulas seguiram as mesmas.
Isso, mesmo após a compra da Kopenhagen e da Brasil Cacau em 2023 pela multinacional Nestlé, que desembolsou um cheque de R$ 3 bilhões.
“A Kopenhagen segue a quase 100 anos mantendo a suas receitas de forma inabalável. Para nós, qualidade é um ativo inegociável dentro da nossa história”, afirma.
Antes da aquisição pela Nestlé, a Kopenhagen passou por diferentes controladores. A empresa foi fundada em 1928 pelo casal de imigrantes letões Anna e David Kopenhagen e, posteriormente foi comprada por Celso Ricardo de Moraes, fundador do grupo CRM, em 1996.
Em 2020, o fundo de private equity americano Advent International comprou o controle do Grupo CRM, mantendo Renata Moraes Vichi, filha de Celso, como CEO.
Sobre a compra pela Nestlé, Vichi comenta que pouco mudou internamente. A companhia teve aumento de competitividade, melhoras de performance mas a cultura corporativa foi mantida e as estratégias seguem semelhante, como usual num modelo de M&A standalone, que foi o caso de dessa compra – termo utilizado para designar uma operação em que uma empresa compra ou se funde com outra, mas sem juntar ou integrar as operações, com cada uma seguindo tocando seu negócio separadamente.
Expansão de franquias
A Kopenhagen soma mais de 850 pontos de venda atualmente, ao passo que a Brasil Cacau tem mais de 500 lojas franqueadas, ultrapassando então um total de 1,3 mil pontos de venda do Grupo CRM.
Vichi relata que a companhia segue com um ‘plano de expansão arrojado’ e que teve um volume substancial de aberturas no ano de 2024.
“No ano passado foram 250 novas lojas [Kopenhagen e Brasil Cacau juntas], o que representa um crescimento de 70% ante o ano anterior. Agora em 2025 devemos ter mais novas 200 lojas, uma oferta muito grande, além de novos leads”, revela.