09/07/2003 - 7:00
Aquela velha história machista, de que charuto e cachaça fazem somente parte do universo masculino, parece estar com os dias contados. As mulheres estão invadindo o mercado da cachaça ? mas uma cachaça especial, artesanal, destinada sobretudo para a exportação. ?As pessoas me perguntam: por que você está fazendo cachaça? Não tinha outra coisa pra fazer??, conta Andreia Britto, proprietária e diretora da cachaça Fonte Imperial. Pois foi o próprio pai de Andreia que a levou para o mundo da bebida. Quando ele a convidou para montar um alambique em Santo Antônio da Patrulha, no Rio Grande do Sul, ela largou o emprego na área exterior e associou-se à irmã para criar a Fonte Imperial. Em um ano, sua produção já atingiu 50 mil litros por safra e é encontrada no varejo por R$ 14 a garrafa, contra R$ 3 da pinga industrializada.
Em geral, as próprias famílias abrem as portas dos alambiques para as mulheres, como ocorreu com Andreia. A mineira Dirlene Maria Pinto nasceu em um clã repleto de irmãos e tomou gosto (empresarial, diga-se) pela cachaça ainda criança, quando observava o pai produzindo pinga na fazenda. Anos depois, junto com os irmãos, transformou o passatempo paterno em um empreendimento e lançou a cachaça Germana. A produção anual, de 100 mil litros, é exportada para a Inglaterra, o que garante faturamento de US$ 350 mil. Em outra frente, Dirlene comanda a Coocachaça, cooperativa que reúne 72 pequenos produtores.
Juntos vendem a Samba&Cana, para países como Portugal, EUA, Alemanha e Inglaterra, colhendo US$ 600 mil por ano. ?Estamos
nos esforçando para introduzir cada vez mais a cachaça de alam-
bique no exterior?, conta Dirlene.
Em volume, a pinga industrial leva vantagem na briga pelo mercado externo. Em 2002, as exportações geraram US$ 14,5 milhões, com a venda de 14,8 milhões de litros. Do total, apenas 10% é de cachaça de alambique. Mas o volume pequeno é compensado pelo maior valor agregado. Cada litro é vendido por US$ 3,50, contra US$ 0,80 do aguardente industrial. Dentro do Brasil, porém, a resistência à bebida ainda é grande. ?Já sofri discriminação não por ser mulher e sim por produzir cachaça?, conta Dirlene. O preconceito parece não desestimular as mulheres. A paraibana Anna Carolina Fonseca acaba de receber um golpe duro em seu empreendimento. Dona de um alambique, onde emprega 35 funcionários, ela perdeu a marca de sua cachaça, a Arco-Íris, por determinação do INPI. Uma fabricante de refrigerantes já havia registrado o nome. Agora, Anna está à procura de uma nova marca. Isso parece não assustá-la, talvez pelo próprio fato de ser mulher. ?Produzir cachaça é como um filho, você vai entendendo, compreendendo e vai adquirindo aquele apreço? declara. ?Dá trabalho, mas a gratificação é imensa.?