Quem passou pelo aeroporto de Heathrow, em Londres, no mês passado teve a rara oportunidade de descobrir algo que poucos gringos sabem: cachaça não é rum. Isso não vale para os brasileiros, é claro, que na sua maioria sabe diferenciar samba de rumba. Esse foi o objetivo de Marcos de Moraes, dono da Sagatiba, a jovem marca de cachaça nacional, criada em 2004, quando decidiu montar um quiosque em Heathrow para apresentar seu produto ao mundo. Resultado: a Sagatiba já está dando o que falar por lá. Em apenas um mês, a bebida alcançou metade das vendas de todas as marcas de vodca e de rum nas lojas do aeroporto mais movimentado da Europa. Ainda superou em oito vezes a comercialização da tequila, a bebida que é a cara dos mexicanos. É exatamente essa a proposta de Moraes: tornar a cachaça conhecida como categoria de bebida em todos os cantos do mundo. E mais, mostrar que ela é genuinamente brasileira. Moraes conta que numa viagem à Austrália ficou chocado ao constatar que os bares locais faziam caipirinha de rum. ?O Brasil precisa valorizar suas coisas. A cachaça é nossa e o mundo precisa saber disso?, diz Moraes, filho do ex-rei da soja Olacyr de Moraes.

A Sagatiba nasceu com foco no Exterior e com a idéia de disputar espaço com os melhores destilados do mundo. Só que ela tem muito chão pela frente. O mercado internacional representa menos de 1% da produção e das vendas de cachaça brasileira. Moraes quer fazer com a cachaça o que a Rússia e o México fizeram com a vodca e a tequila. Hoje, metade da produção dessas bebidas está no Exterior. Ao menos na Sagatiba o processo de exportaçåo está avançado: 30% da produção vai para fora do País e é vendida em 2,2 mil pontos de venda da Europa. O próximo alvo são os Estados Unidos.

Moraes não mede esforços para tornar a Sagatiba conhecida no mundo. Colocou sua bebida na sofisticada frota de navios de cruzeiros, a Princess Cruise. Também levou à casa de leilão mais famosa do mundo, a londrina Christie?s, cinco garrafas de uma safra rara de aguardente, achada por acaso numa fazenda no interior de São Paulo após ficar por 23 anos descansando em barris de carvalho europeu. Detalhe, cada garrafa da Sagatiba Preciosa, como foi batizada, foi vendida a R$ 2 mil. Foi a primeira vez que a Christie?s abriu suas portas para um leilão de cachaça. A divulgação já produz resultados. A Sagatiba Preciosa recebeu pontuação de 96 pontos, de um total de 100 pontos, do Beverage Testing Institute, dos Estados Unidos, colocando-a no hall das melhores bebidas do mundo. ?A Sagatiba Preciosa é um tesouro raro?, garante Moraes. Sem dúvida. Até porque, sua produção não vai além de dois mil litros. O segredo da iguaria foi enterrado junto com o criador há muitos anos. A sua viúva, hoje, se contenta em receber algumas garrafas da cachaça e em reverter parte do dinheiro da venda, que começa em janeiro de 2007, para entidades filantrópicas. Moraes fica satisfeito com a imagem que a Preciosa agrega ao seu produto.

No Brasil, a marca também está na moda. Qualquer barzinho que se preze tem a tal da ?marvada?, pura ou a velha (amarelada), no menu. O preço é salgado. Uma dose pode sair por até R$ 13, mas os brasileiros não se inibem. Em 2005, o consumo interno da bebida foi de 338 mil garrafas, volume que deve triplicar este ano. O segredo da Sagatiba está na forma da destilação e na qualidade da água. Não é à toa que Moraes escolheu o município de Patrocínio Paulista, próximo a Ribeirão Preto, para instalar a fábrica. A região tem o privilégio de ser abastecida pelo Aqüífero Guarani, um dos mais puros do mundo. ?É cachaça para acordar sem dor de cabeça no dia seguinte?, garante Moraes.