Em inglês: cachaça. Em italiano: cachaça. Em espanhol: cachaça. Desse modo, com a expressão no original, em português, registrada internacionalmente, o ícone das bebidas brasileiras pretende conquistar o mundo. Em junho passado, o Brasil enviou à Organização Mundial de Alfândegas, a OMA, um pedido de registro da denominação. A cachaça quer chegar às mesas como o rum e a tequila, destilados com certidão de nascimento.
Quer ostentar nome próprio. Será uma vitória merecida, resultado
da qualidade e refinamento de marcas recentes, produzidas com esmero. Esqueça os rótulos malfeitos e as garrafas rústicas de vidro escuro, vendidas em bares, que sempre foram símbolo de aguardente. A velha caninha de botequim sofisticou-se no gosto e na estética. Agora, pode ser encontrada em garrafas de cristal, a preços acima de R$ 100. Virou artigo fashion, comercializado em hotéis cinco estrelas e restaurantes da moda. A mudança começou com a expansão das chamadas cachaças ?artesanais premium?, as mais refinadas.

Hoje, a cachaça conhecida na maior parte do País e no exterior
ainda é a industrial. Do total de 1,5 bilhão de litros produzidos no Brasil em 2002, que resultaram em receitas de US$ 500 milhões, cerca de 1 bilhão de litros vieram de destilarias industriais. Dá-se, aos poucos, uma virada, e a busca de produtos com estilo, a partir dos alambiques artesanais. Neles nasce uma pequena revolução. São
230 mil produtores, dos quais muitos investem no tipo premium. Na feira internacional Expocachaça, que ocorre entre 18 e 21 de setembro, em São Paulo, serão lançadas várias versões de luxo. Uma delas é a ?Gift of God? (Presente de Deus), do alambique Bousquet, de Bom Jesus de Itabapoana, no Rio de Janeiro. Custa US$ 50 e já é encontrada no restaurante Infinito, no centro de convenções paulistano World Trade Center. A Cachoeira de Cachaça, fabricada em Paty do Alferes, no Rio, também é vendida no bar do hotel Grand Hyatt, em São Paulo, a R$ 200.

A moda das cachaças chegou até ao badalado complexo Fasano, recém-inaugurado na capital paulista. Ali, pode ser encontrada a GRM ? Gosto Requintado Mundial, de Araguari, Minas Gerais. A marca também está no cardápio da butique de carnes Esplanada Grill, na capital paulista, a R$ 20 a dose. É uma forma de abrir o caminho para outras aguardentes refinadas, como a Zurli, fabricada em Ouro Preto. Trata-se de um licor de limão com cachaça baseado na receita do limoncello, tradicional bebida italiana.

Em busca de mesas elegantes, os produtores buscam novidades que as diferenciem. Uma tendência recente é a cachaça orgânica, trabalhada sem adubos sintéticos e herbicidas. Na fermentação, não se autoriza o uso de aceleradores químicos. Uma das marcas dessa família é a Matraga, de Planalto, no Paraná, produzida pelo alambique do ex-ministro da Saúde Alceni Guerra. A Matraga, cujo nome é inspirado no personagem de Guimarães Rosa, é bidestilada, o que a torna mais pura. A Espírito de Minas, uma das mais cobiçadas do País, selecionou uma saborosa reserva, armazenada durante seis anos, e pediu ao artista plástico Aldemir Martins uma releitura do tradicional rótulo. São detalhes que as autorizam a entrar no fechado mercado de bebidas finas dos Estados Unidos. É o caminho mais curto para que o segmento chegue aos 42 milhões de litros de produção estimados para 2010.