O INDEPENDENCE OF THE Seas atracou no porto de Southampton, a 120 quilômetros de Londres, na manhã fria de 28 de abril. Olhou com arrogância para os navios cargueiros que passavam ao seu lado, fez os rebocadores parecerem insignificantes e deixou quem quer que fosse abismado com seu tamanho. Às 17 horas em ponto, gritou sucessivamente através do apito surdo, balançou as águas com suas grandiosas hélices e intimidou a fog típica da Grã-Bretanha. As nuvens carregadas abriram espaço para os raios de sol e o maior navio do mundo debutou no mundo dos cruzeiros marítimos. Esse colosso, com 340 metros de comprimento, 160 mil toneladas e espaço para 3.634 passageiros, é a nova jóia da companhia americana Royal Caribbean. O custo do seu nascimento foi proporcional ao seu tamanho. ?Investimos cerca de US$ 900 milhões na construção do Independence?, diz Adam Goldstein, CEO da empresa.

?Teremos o retorno dentro de dez anos.? Ao lado de outros navios gêmeos como o Liberty of the Seas e o Freedom of the Seas, ele forma a trinca que desbancou, em tonelagem e em número de passageiros, o todo-poderoso Queen Mary II, embarcação com 150 mil toneladas lançada em 2004. Mas não por muito tempo. Em 2009, a mesma Royal Caribbean inaugurará um barco que, por enquanto, é chamado de Projeto Gênesis. Ele terá 360 metros, espaço para 5.400 passageiros e 220 mil toneladas. Será o ápice de um movimento irreversível: os navios estão cada vez maiores.

Os executivos do setor explicam a evolução da indústria de forma simples. ?Não criamos os navios para serem grandes?, diz Richard Fain, presidente do conselho da Royal Caribbean. ?Projetamos barcos que tenham várias opções de lazer, mas, para têlas, é necessário construir navios grandes.? A julgar pelo Independence of the Seas, compreende-se o que a indústria de cruzeiros tem buscado. Da popa à proa, ele possui ambientes que fariam muito resort em terra firme parecer piada. Além de 1.817 cabines, o barco tem teatro para 1.350 pessoas, pista de patinação no gelo, academia de ginástica com ringue de boxe, spa, vários restaurantes e bares. De um lado do convés, há parede de escalada, quadra poliesportiva, minigolfe e até um simulador de surfe. Batizado de FlowRider, ele tem 9,8 metros de largura por 12,2 m de comprimento e jorra 34 mil galões de água por minuto, gerando uma velocidade de 32 km/h. Do outro lado encontra-se um parque aquático com piscinas aquecidas. O Independence of the Seas ainda dispõe de banheiras de hidromassagem que ultrapassam a borda do navio em 3,6 metros. Isso proporciona uma vista panorâmica do mar a 35 metros de altura. No deque 5, o passageiro encontra a Royal Promenade, uma rua com 135,6 metros, cheia de lojas, bares e sorveterias.

POR SEMANA, SÃO CONSUMIDOS: 29,5 toneladas de vegetais, 29 toneladas de frutas, 18 mil fatias de pizza, 10,7 mil garrafas de cerveja, 2,9 mil garrafas de vinho e 105 mil refeições

 

 

PESO: 160 MIL TONELADAS Isso equivale a 80 mil carros, 32 mil elefantes adultos, a 3,5 vezes o Titanic

 

 

No Projeto Gênesis, que será lançado em 2009, a companhia vai além. Os engenheiros estão desenvolvendo o Central Park, um jardim tropical do tamanho de um campo de futebol. Tudo isso é possível devido a décadas de aperfeiçoamento nas técnicas de construção. ?Já desenvolveram uma tecnologia que permite o cultivo de jardim em alto-mar?, diz Ricardo Amaral, diretor de marketing da Sun & Sea, empresa que representa a Royal Caribbean no Brasil. ?Isso porque o sal e a maresia afetam as plantas.? A tecnologia embarcada nos navios ganhou velocidade de cruzeiro nas últimas três décadas. Nos anos 80, aparelhos de televisão surgiram nas cabines. Nos anos 90, os campos de golfe

e, nesta década, pistas de patinação, piscinas para a prática de surfe e turbinas que geram energia elétrica com redução da emissão de gases poluentes em até 98%. Diante de tantas inovações e do aumento do tamanho dos navios, cabe uma pergunta: será que o maior é o melhor? ?Na verdade, as empresas usam o tamanho dos navios como ferramenta de marketing?, diz Eduardo Tomyia, diretor da BrandAnalytics. A grosso modo, elas minam o poder da concorrência e alardeiam aos quatro cantos: ?O meu é maior do que o seu.? ?Isso é um fator relevante no processo de escolha do cliente?, diz Tomiya. Há controvérsias. ?Existe público para todos os tipos de navio?, explica Cláudia del Valle, gerente de marketing da Costa Cruzeiros. ?Cada mercado recebe um tipo diferente de navio.?

Um gigante como esse ainda demorará para chegar ao Brasil. ?Acho que dentro de uns seis anos?, diz Eduardo Nascimento Filho, diretor- geral da Sun & Sea. Para isso, a estrutura portuária brasileira precisa melhorar e o mercado deve crescer mais. No ano passado, o Brasil transportou 400 mil passageiros, 100 mil a mais do que no ano anterior. ?Os barcos navegam com ocupação máxima?, diz Nascimento. E, a julgar pelo crescimento do setor desde 2001, quando 68 mil pessoas viajaram de navio, é possível imaginar o Independence navegando pelo litoral brasileiro dentro de alguns anos.