A Apple criou o mercado de computadores pessoais na década de 1970 e depois o reinventou em 1984, quando lançou o Macintosh com sua interface gráfica revolucionária. Mas foi colocada para fora de sua própria festa, quando a Microsoft, de Bill Gates, nos anos 1990, fez do Windows uma cópia muito melhor do que o original da empresa fundada por Steve Jobs. Quase 30 anos depois, a história se repete. Em 2007, a Apple inventou o mercado de smartphones sensíveis a toques, com o iPhone. Três anos depois, impressionou o mundo com o iPad, inaugurando a categoria de tablets. E, mais uma vez, pode ser expulsa de sua festa. O arqui-inimigo da vez é a coreana Samsung, comandada pelo coreano Lee Kun-hee. 

 

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Na semana passada, com a divulgação dos números de vendas das duas empresas, no segundo trimestre deste ano, ficou claro o estrago que a Samsung está fazendo na vida da Apple. A coreana vendeu 72 milhões de smartphones, volume mais de duas vezes superior ao da americana. Sozinha, a Samsung já entrega mais celulares do que suas quatro maiores rivais, Apple, LG, Lenovo e ZTE, juntas. Não bastasse isso, seu lucro operacional na área de celulares, de US$ 5,2 bilhões, superou o da Apple, que reinou absoluta nesse quesito nos últimos quatro anos, segundo a consultoria americana Strategy Analytics. “Com um forte aumento nas vendas e uma estratégia rígida de controle de custos, a Samsung finalmente conseguiu se tornar a maior e mais lucrativa fabricante de celular”, disse, em relatório, o analista Neil Shah.

 

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Fora da festa: a Apple, comandada por Tim Cook, inventou o mercado

de celulares sensíveis ao toque, mas perdeu a liderança

do setor para a Samsung

 

O jogo começou a virar a favor da Samsung em setembro do ano passado, com o lançamento do Galaxy SIII. O celular foi considerado o primeiro aparelho capaz de fazer frente ao poderoso iPhone. Desde então, a Apple, acostumada a lançar tendências no mercado, passou a também ter de correr atrás da concorrência, especialmente nos mercados emergentes, como a China. As vendas do Galaxy S4, modelo topo de linha da Samsung, no país asiático são a prova de que a companhia californiana não tem conseguido impressionar tanto os consumidores como na época de Jobs. O aparelho foi o principal responsável pelo crescimento da Samsung no segundo trimestre deste ano, de acordo com a Strategy Analytics. 

 

Enquanto isso, a Apple, comandada por Tim Cook, viu suas receitas na China caírem 14% no mesmo período, em comparação ao ano passado. “A Apple terá de lançar outros modelos de celulares, a preços menores, ou com telas maiores, se quiser reconquistar os lucros perdidos para a concorrência”, afirma Shah. Além de desbancar o iPhone nos países emergentes, que apresentam maiores taxas de crescimento, a Samsung tirou melhor proveito da expansão do mercado de smartphones por ter um portfólio maior de aparelhos. A empresa coreana utiliza em seus celulares o sistema operacional Android, uma espécie de Windows para celulares, desenvolvido pelo Google. 

 

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A Samsung, comandada por Lee Kun-Hee, já vende mais smartphones

do que suas quatro maiores rivais juntas

 

Por ser um software aberto, que pode ser utilizado por qualquer fabricante, ele permitiu o lançamento de aparelhos mais baratos. Atualmente, o Android está presente em 75% dos celulares vendidos no mundo. No Brasil, a participação é ainda maior: 87%. A dona do iPhone, por sua vez, aposta em um sistema proprietário, o iOS, e apenas em um modelo de celular. “A Apple foca em um nicho, enquanto a Samsung compete em todo o mercado”, afirma Leonardo Munin, analista de mercado da consultoria americana IDC, especializada em tecnologia. “As vendas das duas empresas aumentaram, mas, como o mercado também cresceu, a Samsung levou vantagem.”

 

A participação do iPad, da Apple, no mercado mundial de tablets caiu de 47%,

no segundo trimestre de 2012, para 28% este ano

 

Essa mesma tendência está se tornando realidade também no mercado de tablets. A fatia da Apple no segmento caiu de 47%, no segundo trimestre de 2012, para 28% este ano. O Android já está presente em 67% dos tablets vendidos. Apesar disso, a empresa americana mantém boa vantagem em relação à rival coreana. Isso porque a maior parte dos aparelhos vendidos com o sistema do Google é fabricada por empresas que produzem equipamentos para terceiros. Esses modelos “sem marca” fazem sucesso devido ao seu preço mais baixo. A Samsung e outras fabricantes, no entanto, já estão baixando seus preços, para enfrentar a concorrência dos outsiders. Não será difícil prever o que irá acontecer.

 

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