O economista Guilherme Camargo é um sedutor. Aos 35 anos, o fundador e diretor-presidente da empresa de factoring Porto Forte convenceu cerca de 500 investidores muito especiais a comprar ações de sua companhia. Muitos de seus sócios-investidores são jovens bem-nascidos e milionários que trabalham em bancos de elite do mercado financeiro. 

O mais famoso é José Roberto Ermírio de Moraes Filho, 25 anos, um dos herdeiros do Grupo Votorantim. Seu pai, José Roberto Ermírio de Moraes, chefia a holding que concentra as participações em empresas industriais do grupo. 

 

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Beto Moraes, como é conhecido, investiu R$ 1 milhão em setembro de 2010 em ações da Porto Forte por meio de sua empresa de participações, a Infinity Venture. Passados sete meses, ele e os outros investidores descobriram que o sedutor canto da sereia era enganoso: todos foram vítimas de uma grande falcatrua.

 

A Porto Forte funcionava como uma espécie de corrente da felicidade. Ela prometia aos acionistas algo inusitado, uma rentabilidade fixa – 160% da taxa do CDI – para um investimento em renda variável. 

 

O porte da tramoia não chega aos pés das malvadezas do investidor americano Bernard Maddoff, mas surpreende porque vitimou muitos analistas de ações, empresários e executivos do mercado financeiro. 

 

Muitos trabalhavam em bancos de grife como Merrill Lynch, Citibank e Goldman Sachs. Generosas fatias de seus bônus anuais foram aplicadas na compra de ações da factoring e, ao que tudo indica, viraram pó. 

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A alegria era geral até meados de fevereiro, quando foi descoberto um rombo no caixa da Porto Forte, e seus sócios, que só realizavam o lucro ao revender as ações para a própria companhia, ficaram impedidos de resgatar o dinheiro.

 

Os problemas teriam sido descobertos pelo sócio Marcos de Alcântara Machado, que passou dez anos na Claritas Investimentos antes de juntar-se ao grupo. No dia  28 de fevereiro, a advogada Luciana Lima, vice-presidente da factoring, informou ter encontrado “indícios de má gestão e possível utilização indevida do caixa”, uma maneira educada de dizer que o dinheiro sumiu, ninguém sabe, ninguém viu. 

 

Não apenas o dinheiro, aliás: Camargo, suspeito de ter desviado recursos da factoring para a Santa Marina Agropecuária, uma empresa pertencente a seus pais, desapareceu do mapa. 

 

O economista, formado pela Unicamp e com passagem de quatro anos pelo departamento financeiro da multinacional Procter & Gamble, evaporou-se. Deixou para trás centenas de investidores enfurecidos que teriam perdido pelo menos R$ 12 milhões. Como isso foi possível?

 

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Beto Moraes: um dos herdeiros do Votorantim, investiu R$ 1 milhão

 

As factorings dedicam-se a financiar empresas. Trabalham com clientes arriscados – e cobram bem mais caro que os bancos para fazer isso – sem captar dinheiro no mercado interbancário. 

 

Os únicos recursos que podem ser emprestados são os dos sócios. Daí o financiamento por meio da venda de participações acionárias. A factoring comprometia-se a recomprar seus papéis pagando juros elevados. 

 

Muitos fizeram fortunas até que o rombo fosse descoberto. Aparentemente, seduzidos pelo ganho fácil, deixavam de analisar com calma os números da empresa. Os resultados do primeiro trimestre de 2010 mostram um prejuízo de R$ 384 mil, uma perda um pouco menor do que os R$ 412 mil do primeiro trimestre do ano anterior. 

 

O que mais surpreende no canto da sereia é que a lista dos lesados, à qual DINHEIRO teve acesso, inclui nomes experientes, muitos dos quais trabalham ou trabalhavam nos bancos por onde passou Cristiano Camargo, de 31 anos, irmão de Guilherme. 

 

Executivo da Goldman Sachs responsável atualmente por atender grandes empresas, Cristiano comprou 4,6% das ações da factoring por R$ 200 mil. Ele não falou com a DINHEIRO, mas mandou dizer que não tentou seduzir ninguém. 

 

“Meu cliente nunca trabalhou na Ponto Forte, nem a representou”, diz seu advogado, Rogério Leal. “Ele foi um dos maiores prejudicados, pois perdeu dinheiro e está sofrendo um linchamento moral.” 

 

Leal diz apenas que Cristiano “pode ter conversado informalmente” sobre a atraente rentabilidade da Porto Forte com os colegas – e a lista de seguidores foi crescendo na base do boca a boca. 

 

A Porto Forte, com sede numa rua elegante de São Paulo, fechou-se em copas. Luciana Lima, advogada pela PUC do Rio e com 15 anos de experiência na Ambev, informou ter requisitado do desaparecido Camargo um relatório sobre a situação e diz que contratou a PricewaterhouseCoopers para avaliar a situação patrimonial. 

 

O resultado deve ser divulgado após o Carnaval. Enquanto os clientes contabilizam as suas perdas, Guilherme Camargo está em local incerto desde o dia 24 de fevereiro. Estaria escondido no apartamento que seus sócios o acusam de ter comprado com dinheiro obtido pela venda, com lucro, das ações da Porto Forte para a tesouraria da própria empresa? A briga vai longe. Procurado, Beto Moraes não deu entrevista.