O Banco Central anunciou com pompa e circunstância medidas para a ampliação da oferta de crédito. Estavam ali computados nada menos que R$ 212 bilhões em linhas, benefícios e modalidades de empréstimos para azeitar as estruturas empresariais consumidas pela paralisia forçada via pandemia. E o que aconteceu? Uma reação insossa, para não dizer de desânimo, por parte dos tomadores. E esse comportamento frustrante tem suas razões de ser. Não é de hoje que a atividade produtiva esta à espera desesperada por recursos que, no mínimo, atenuem os efeitos desastrosos da crise sobre seus negócios. Foram inúmeras promessas nos últimos meses nesse sentido. Projetos, comunicados, alternativas. Mas, invariavelmente, esbarraram na burocracia ou nos critérios firmes do sistema para a concessão do dinheiro. Em situação calamitosa, boa parte das companhias não tinha como honrar com as exigências. Assim, não recebiam o empréstimo e, forçadas a se manter paradas, ficavam insolventes, quando não morriam de inanição. O ciclo perverso teve início e um fenômeno definido como “empoçamento” de dinheiro verificou-se nos bancos. Pouca gente ou quase ninguém viu a cor e agora, com o novo repique de promessas do BC, a descrença parece generalizada. O Banco Central está convencido de que, dessa vez, a injeção de liquidez anda. Uma das medidas mais alvissareiras nesse sentido autoriza que o saldo das operações de crédito para capital de giro seja deduzido do recolhimento compulsório sobre depósitos de poupança, pelo prazo de três anos. O Banco projeta que, somente aí, a iniciativa libere cerca de R$ 55,8 bilhões em recursos. Foi regulamentada também a compra de títulos de empresas privadas no mercado secundário. A medida havia sido aprovada na PEC do orçamento de Guerra em maio, mas demorou para ser efetivada. Aliás, tudo nesse campo das ações emergenciais para frear os impactos da pandemia parece atrasar muito mais do que devia para as circunstâncias. O que não faltam são boas intenções, especialmente por parte da equipe econômica comandada pelo czar e ministro da Economia, Paulo Guedes. Nos últimos dias ele próprio admitiu estar avaliando a possibilidade de “perdoar” empréstimos tomados pelas empresas nesses tempos excepcionais. Como faria isso? O tal “perdão” do empréstimo seria oferecido apenas para aquelas companhias que mantivessem em dia o pagamento de impostos no próximo ano. Em outras palavras: ao bom pagador, tudo. Guedes tem dito aos auxiliares que é justo “esquecer” a linha tomada em momentos de aperto. E isso pode se dar através de uma espécie de “bônus” de adimplência. O governo pagaria o tal empréstimo emergencial à instituição financeira, desde que o tomador prossiga com os tributos sendo quitados normalmente e que tenha tomado o empréstimo com garantia do Tesouro. A torcida, generalizada, é que as promessas lançadas no papel virem efetivamente realidade.