14/03/2012 - 21:00
Em um tempo em que luxo não costuma rimar com ostentação, os artistas que investem em mobílias criativas ganham cada vez mais espaço no seleto mercado da decoração de alto padrão. O importante agora não é apenas criar peças bonitas ou funcionais: elas devem dar um toque de personalidade artística ao lar dos endinheirados que as encomendam. Com suas exóticas cadeiras, que de tão criativas parecem ter saído diretamente da terra dos sonhos, a designer Valentina Gonzalez Wohlers – mais conhecida como Val Gonzalez – já conquistou fãs em Londres, Milão, Nova York, Paris e, claro, no México, a sua terra natal.
Design e arte: cada vez mais esse conceito conquista os consumidores
endinheirados que buscam exclusivade a qualquer preço.
Capa e miolo de diversas revistas conceituadas no mundo do design-arte, as peças da artista lembram um pouco as criações dos irmãos Fernando e Humberto Campana no quesito bizarrice. Os brasileiros são, por sinal, uma das fontes de inspiração para Valentina. “Eles colocaram o Brasil de volta ao cenário do design contemporâneo”, diz a artista. Sobre o País, ela não economiza elogios. “O Brasil e os brasileiros são cheios de vida, cor e senso de humor”, afirma. “Tudo a ver com a minha arte.” Apesar de pouco conhecida no mercado local, Valentina acredita que a boa arte não tem delimitações geográficas, como no caso dos Campana, nascidos no interior de São Paulo.
Da mesma maneira que eles conquistaram admiradores não só no País como nos diferentes cantos do mundo com suas obras inusitadas, a designer mexicana deixou a Cidade do México para fixar base em Londres, onde mora atualmente. A partir daí, o destaque internacional foi inevitável. Muito de seu sucesso se deve ao crescente interesse dos consumidores abonados pelo design-arte. “O artista que segue esse conceito tem mais liberdade de criação, não fica limitado com a produção em série”, afirma Débora Gigli, professora do Centro Universitário Belas Artes, em São Paulo. Segundo ela, esses artistas seguem à frente de seu tempo. “Por não ter tanto compromisso com o funcional, eles são capazes de lançar tendências e não apenas copiá-las.”
É por esse motivo que pagar até R$ 15 mil para ser dono de uma das peças conceituais de Val Gonzalez – como a “The Ghost of a Chair” (o fantasma da cadeira, em português), uma das preferidas da designer – passa a ser tolerável. Sem deixar de lado a criatividade, a artista mexicana tenta aliar ao máximo o design e a funcionalidade. Nem sempre é fácil, já que deve ser um pouco incômodo ficar sentado por muito tempo em uma cadeira com pelos que imitam os espinhos de um cacto, como no caso da colorida “The Prickly Pair Chairs” (o par de cadeiras espinhosas) ou feita de galhos de árvores, como a “The Wild Botched Chair” (a selvagem cadeira estragada). “No fim, eu sou uma designer de mobiliário e quero que as pessoas se interessem por minhas criações e, quem sabe, comprá-las”, afirma.
Apaixonada por arte moderna, ela realizou mais de dez feiras e semanas de arte na Europa e nos Estados Unidos, nos últimos dois anos, mas não se desliga do México. Quase todas as suas criações remetem à história e ao colorido de seu país, algumas vezes misturadas ao tradicional design europeu. “A arte de Val Gonzalez pode parecer até um pouco exagerada, mas é uma maneira muito interessante e divertida de tratar a decoração”, afirma Ricardo Schwab, professor da Panamericana Escola de Arte e Design, de São Paulo. “Acho que pode fazer muito sucesso em um país tão plural quanto o Brasil.” Em tempo: as cadeiras de Valentina Gonzalez podem ser adquiridas pela internet.