A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado abriu vista  coletiva aos parlamentares sobre o Projeto de Lei da Câmara (PLC)  27/2016, que dispõe sobre o reajuste do subsídio dos ministros do  Supremo Tribunal Federal (STF). Com isso, a discussão da matéria e a  votação do relatório do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) – que já se  manifestou de forma contrária ao projeto – foi adiada para a próxima  sessão da comissão, na terça-feira, 30.

O primeiro pedido  de vista partiu do senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), seguido de José  Aníbal (PSDB-SP), que solicitou vista coletiva. Os tucanos trabalham  desde o início da sessão da CAE, às 10h, para postergar a apreciação de  matérias que envolvem reajustes do funcionalismo público. Além da  remuneração dos ministros do STF, a pauta da CAE inclui a apreciação de  reajustes da Defensoria Pública-Geral e do Procurador-Geral da  República.

O PSDB tem manifestado insatisfação com a  condução do ajuste fiscal pelo governo do presidente em exercício Michel  Temer. Questionam a concessão de reajustes a servidores em meio à  sequência de déficits expressivos nas contas públicas. Em resposta, o  governo acenou ontem publicamente que vai segurar a votação dos projetos  de reajuste salarial para o funcionalismo público no Senado Federal. O  aumento já foi aprovado pela Câmara dos Deputados, com apoio do governo.

“Agora,  é o momento de segurar um pouco essa questão de reajuste”, afirmou  ontem o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB),  após almoço com líderes da base aliada na residência oficial do  presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Parlamentares do PMDB e de  outros partidos da base, no entanto, já adiantaram que não vão acatar  essa posição.

O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira  (CE), e outros oito partidos assinaram pedido de urgência para que o  reajuste dos ministros do STF seja votado diretamente no plenário,  pulando a discussão na Comissão de Assuntos Econômicos, que está nas  mãos dos tucanos. “O PSDB quer enrolar. Por que não vota contra?”, disse  um líder à Coluna do Estadão.

Na sessão de hoje da CAE, o  senador Valdir Raupp (PMDB-RO) solicitou a leitura do voto em separado e  já adiantou seu posicionamento favorável em relação ao reajuste dos  ministros do STF.

Efeito cascata

Relator  do PLC 27/2016, Ferraço destacou o efeito cascata que o reajuste da  remuneração dos ministros do STF teria sobre outros salários do  funcionalismo federal, estadual e municipal. Em seu parecer, o senador  mencionou estimativa da Consultoria de Orçamento do Senado que apontou  impacto financeiro anual superior a R$ 4,5 bilhões com a aprovação do  reajuste dos ministros STF.

“Não estamos simplesmente  aumentando o teto. Estamos escancarando a porteira para que um sem-fim  de aumentos possam acontecer”, disse Ferraço. O projeto prevê que a  remuneração dos ministros da corte subirão a R$ 36.713,88 a partir de  junho de 2016 e a R$ 39.293,32 a partir de janeiro de 2017.

“Nos  Estados, apenas com a elevação dos subsídios da magistratura estadual,  estima-se um outro impacto anual superior a R$ 1,23 bilhão nas despesas  de todos os Estados. Já a elevação do teto para os Estados irá implicar  em um custo adicional superior a R$ 1 bilhão”, emendou Ferraço. “Como  aprovar um reajuste que vai impor ainda mais ônus aos Estados que estão  declarando moratória?”, questionou o relator.

A leitura do  relatório de 18 páginas pelo senador tucano gerou burburinho na sessão  da comissão. “Ainda falta muito, senador?”, questionou o senador  Lindbergh Farias (PT-RJ), quando a leitura já estava na 11ª página. “Vou  ficar ouvindo durante uma hora, senador?”, emendou.

“O  senhor pode sair, não é obrigado a ficar”, rebateu Ferraço, que se  referiu à “impaciência lamentável” do petista. “É falta de senso de  vossa excelência”, protestou Lindbergh.

Os senadores  tucanos trabalharam para protelar qualquer tipo de análise dos reajustes  na CAE. Ataídes Oliveira também pediu vista do projeto que concede  reajustes para a Defensoria Pública. “Diante da situação econômica que o  País atravessa, é hora de o Congresso Nacional rever os gastos  públicos”, disse o senador. Solicitou 24 horas, mas ganhou apenas 30  minutos.

A presidente da CAE, senadora Gleisi Hoffmann  (PT-PR), que relatou este projeto, ressaltou que a matéria tramita em  regime de urgência. “Seria desrespeito à Constituição não conceder o  reajuste”, afirmou Gleisi. “É evidente a necessidade da valorização  dessa carreira.” Neste momento, a concessão de aumento à DPU está em  discussão na CAE.