18/11/2025 - 12:07
Novas análises de DNA revelam que os cachorros acompanhavam nossos antepassados há pelo menos 10 mil anos – e já exibiam uma diversidade física surpreendente muito antes das raças modernas.Uma análise de DNA antigo revelou que o cão é “o fiel amigo do homem” há pelo menos 10 mil anos: já o acompanhava em migrações intercontinentais naquela época, o que gerou uma grande diversidade física entre os peludos de quatro patas.
Duas pesquisas recentes publicadas na revista Science confirmam, por um lado, que os cães domésticos costumavam viajar junto aos humanos e se integravam às suas sociedades desde o Holoceno – há aproximadamente 11,7 mil anos – e, por outro, que os cães começaram a se diversificar fisicamente antes de os humanos criarem as raças modernas.
Companheiros de migração
O primeiro estudo aponta que os cães viajavam com grupos humanos que migravam e se estabeleciam em diferentes partes da Europa, Ásia e Ártico há, pelo menos, mais de 10 mil anos.
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após sequenciar 17 genomas de cães que viveram há entre 9.700 e 870 anos, provenientes de sítios arqueológicos na Sibéria, na estepe euroasiática central e no noroeste da China – regiões que passaram por mudanças significativas durante o avanço das culturas humanas no Holoceno.
Os dados foram comparados com os de 57 genomas de cães antigos publicados anteriormente, 160 genomas de cães modernos e 18 genomas humanos antigos.
Os resultados, segundo os cientistas, mostram que o movimento dos cães domésticos pela estepe euroasiática, Ásia oriental e Sibéria oriental às vezes coincidia com as migrações de povos caçadores-coletores, agricultores e pastores, e que é possível que comunidades de origens diferentes tenham trocado cães entre si.
Diversos desde a antiguidade
Outro estudo confirma que a diversidade física dos cães existia há mais de 10 mil anos e que, diferentemente do que se pensava, não começou com a reprodução seletiva que os humanos promoveram ao longo dos últimos 200 anos.
Para entender como os cães domésticos se desenvolveram e se diversificaram em sua forma física ao longo do tempo, pesquisadores fizeram uma análise em 3D de 643 crânios caninos com até 50 mil anos de idade.
Com a ajuda de modelos digitais em 3D, scanners a laser ou fotogrametria, os pesquisadores compararam características cranianas específicas entre cães antigos e modernos, além de seus parentes selvagens.
Os resultados mostram que os traços distintivos do crânio dos cães – um focinho mais encurtado e uma face mais larga em comparação com lobos – apareceram pela primeira vez durante o Holoceno inicial, como demonstram os restos encontrados na Rússia e datados de 10,8 mil anos.
Os cães mais antigos conhecidos do Mesolítico e do Neolítico possuíam crânios dentro da faixa de tamanhos modernos, mas eram tipicamente menores e menos variados, sem as características exageradas que definem muitas raças atuais.
Ainda assim, sua diversidade era surpreendente. Os cães do Holoceno inicial exibiam aproximadamente metade da variação morfológica observada nos cães modernos e o dobro da de seus ancestrais lobos do Pleistoceno, o que sugere que já havia surgido uma notável variação na forma dos cães milênios antes das práticas modernas de criação.
“Muitas vezes presumimos que a diversidade entre os cães surgiu na era vitoriana, ao longo dos últimos dois séculos – mas não”, afirmou à revista Nature a bioarqueóloga Allowen Evin, da Universidade de Montpellier. “O que descobrimos é que, desde o início, houve uma diversidade enorme, muito maior do que esperávamos.”
Os motivos dessa diversidade não estão claros. Segundo Evin, elas poderiam ser fruto de tentativas de reprodução seletiva, à medida em que humanos buscavam adaptar cães às diferentes necessidades de seus povos, como caça, segurança ou companhia.
ra/cn (EFE, ots)
