De olho em um mercado consumidor mais preocupado com saúde desde a pandemia, marcas de café têm aumentando o portfólio de produtos – e de experiências – no Brasil, segundo maior mercado global e maior produtor.

+Com Trump, mês do Orgulho LGBTQIA+ no Brasil vê queda do apoio de empresas

A diversificação de produtos e novas iniciativas se dão em um panorama que, mesmo com a perda de poder de compra do brasileiro, o consumo de café não foi freado – tanto no mercado tradicional quanto no de cápsulas.

Fontes do mercado consultadas pela IstoÉ Dinheiro relatam que as companhias têm pesado a mão nos investimentos em produtos voltados para saúde e performance e tido cautela no repasse de preços.

Mariana Marcussi, diretora de Marketing e Sustentabilidade da Nespresso, comenta que a empresa tem uma cultura de ‘repassar o mínimo’ da inflação aos consumidores.

Sobre os novos produtos do portfólio, chamados de Coffee+, relata que veio de uma ‘escuta ativa dos clientes’ e que desde a pandemia a gestão observa uma preocupação maior com saúde.

Anderson Spada, head de Marketing do Grupo 3corações, relata que a companhia viu uma ‘mudança significativa nos hábitos e comportamentos’ desde a pandemia.

“O Grupo 3corações tem respondido a essa demanda com um portfólio que vai muito além do café tradicional, incorporando produtos voltados à nutrição e funcionalidade”, relata.

No lado das experiências, os integrantes do ramo aproveitam a grande visibilidade das festas em cafeterias, ou coffee parties – tendência que já é forte em capitais, especialmente em São Paulo (SP), e deve se manter relevante.

Coffe party veio para ficar

A diretora de Marketing e Sustentabilidade da Nespresso frisa que isso ocorre porque a ‘Geração Z está redefinindo o consumo de cafeína’.

“São hábitos mais diurnos e menos noturnos, menos alcoólicos, e como marca conseguimos surfar essa tendência que consideramos relevante. Antes de fazer, pensamos muito bem em respeitar os códigos, entender como funciona. Fizemos na nossa loja flagship da Oscar Freire [São Paulo], de um jeito mais intimista”, relata.

A visão da gestão é que a tendência está só começando, e que apesar de estar forte na capital paulista, deve também se disseminar pelo resto do estado e por outras capitais.

“A globalização afeta muito mais os mais jovens, vemos os comportamentos similares, independentemente das geografias”, comenta a executiva.

As festas começam geralmente na parte da manhã e encerram ao pôr do sol, com cafés especiais e coquetéis sem álcool – destaque para espresso, cold brew e bebidas criativas.

Geralmente o ambiente tem DJs ou música ao vivo e tem como foco o público da Geração Z.

“Vimos primeiramente lá fora, achamos que era pontual, mas depois começamos a ver em um fim de semana aqui e ali em SP, nas redes sociais. Foi muito rápido. Começou em Londres, aterrissou rápido em São Paulo”, comenta Marcussi.

A companhia usou justamente sua primeira coffe party no Brasil, no início de junho, para lançar seus cafés com vitaminas.

Spada, da 3Corações, avalia que isso ocorre porque o café, além de um produto, é um ‘símbolo cultural’, representando um momento de encontro entre pessoas e uma expressão de estilo de vida.

“A tendência das coffee parties representa essa evolução na forma como o café é consumido, deixando de ser apenas uma bebida funcional e passando a ocupar o espaço do entretenimento, da celebração e da coletividade”, analisa.

A companhia também fez sua festa própria no Sampa Sky, em São Paulo, unindo gastronomia e música eletrônica à experiência.

“Esse conceito já está presente também nas nossas ações em grandes eventos nacionais. A 3Corações tem se posicionado como o café oficial do calendário dos grandes eventos do país, como Rock in Rio, The Town, CCXP, São João e os camarotes do Carnaval do Rio e de Salvador. Nesses espaços, o café é integrado às experiências de lifestyle do público, inclusive, com ativações como o refil ilimitado, que já distribuiu mais de 21 mil litros da bebida em uma única edição”, conta Spada.

A visão da gestão da empresa é que a tendência não é uma moda passageira, e que está conectada com um público jovem e urbano que está ‘redesenhando suas relações com o consumo, o entretenimento e a socialização’.

“O que antes era território exclusivo de bebidas alcoólicas – como festas, encontros e celebrações – começa a ser compartilhado (ou até substituído) pelo café, que carrega consigo propriedades estimulantes e saudáveis.”

Fora do nicho de saúde e performance, a marca lançou o Cappuccino Frozen, que tem uma textura densa e cremosa, sem cristais de gelo, e leva café, leite, cacau e canela.

Além disso, a gestão diz acompanhar de perto o movimento de cafés usados em drinks, mocktails e coquetéis não alcoólicos, e tem levando opções para alguns dos eventos.

“Estamos atentos a essas transformações e seguiremos investindo em produtos que tragam inovação, sabor e funcionalidade, para que o café esteja presente em todos os momentos, da pausa ao brinde, da rotina ao evento especial”, conta Spada.

Marcas miram crescer em ‘café alternativo’ e voltado para performance

Apesar do alto consumo do produto no Brasil, a Nespresso ainda vislumbra uma grande avenida de crescimento com variações que hoje representam uma fatia menor do faturamento – mas que, todavia, são representativas em outras geografias.

“Café gelado é uma tendência. No Brasil é 6%, mas no mundo é 12%, e isso mostra que temos muita oportunidade. Começamos o ano com uma campanha forte nesse sentido durante o Carnaval, por conta do calor, e conseguimos dobrar o share dentro das boutiques”, conta a diretora de Marketing da empresa.

A visão da Nespresso é de que cafés gelados e outros produtos análogos – como flavorizados e descafeinados – , que ainda representam menos de 5% do volume de vendas, tem potencial de dobrar no médio e longo prazo.

A 3Corações, além de outros cafés, abriu o leque de produtos para itens como barrinhas – justamente de olho em um mercado consumidor diferente.

A marca lançou o Cappuccino Power pronto para beber, com adição de 15g de proteínas, e trouxe ao mercado uma linha vegana de cafés com leite vegetal, sem glúten nem conservantes, pensada para públicos que priorizam uma alimentação plant based e mais leve.

“O consumidor contemporâneo não quer apenas sabor, ele busca produtos que equilibrem saúde e prazer, que apoiem de forma prática a rotina dinâmica e agitada, sem abrir mão da indulgência e dos benefícios reais”, diz o head de marketing da 3 Corações.

Como é o café com vitaminas da Nespresso

A companhia lançou dois produtos:

  • Cápsulas Vivida (Vitamina B12)
  • Cápsulas Active

A primeira é enriquecida com vitamina B12, com cerca de 0,26 µg, equivalente a 20–32 % da IDR (Ingestão Diária Recomendada). A vitamina apoia o sistema imunológico, bem-estar mental e formação de glóbulos vermelhos.

A segunda é enriquecida com vitamina B6, projetada pela companhia visando o reforço energético, ajudando a reduzir cansaço e fadiga.

Ambas as cápsulas estão disponíveis apenas no sistema Vertuo.

No Brasil, os cafés da linha Coffee+ da Nespresso (para sistema Vertuo) têm preços estimados em torno de R$ 48 a R$ 59 por embalagem de 10 cápsulas.

“Falamos com nutricionistas, gerações mias jovens que estão bebendo café não só puro, porque ele também pode ser uma receita. O desafio foi não comprometer o sabor, achar a dosagem e encontrar a funcionalidade que faz sentido”, relata Marcussi.