O mercado de café está caminhando para uma estabilização de preços em patamares mais baixos depois de um movimento exacerbado por especuladores que fez a commodity disparar nas gôndolas do Brasil, afirmou nesta quarta-feira o presidente da Nestlé no Brasil, Marcelo Melchior.

“A tendência do mercado é de redução do preço da matéria-prima, mas temos que ver se não vai ter geada”, disse o executivo em entrevista à Reuters sobre o ciclo de investimentos de R$ 7 bilhões a ser desembolsado pela empresa no Brasil até 2028.

Ainda que menos frequentes em tempos recentes, geadas severas em 2021 causaram perdas importantes para produtores do Brasil, que lidaram também com secas nos últimos anos.

“Teve muita gente que entrou no mercado para comprar futuro (na bolsa)… Esses fundos já se retiraram ou estão se retirando do mercado e agora ficam somente quem está interessado na matéria-prima”, disse o executivo de uma da maiores empresas compradoras de café do Brasil.

Melchior comentou que por ora não há expectativa de geadas que possam comprometer a safra de café do Brasil neste ano e que “parece que a safra do Vietnã está vindo bem”, como fatores que contribuem para a expectativa de queda nos preços da commodity.

Com o início da colheita no Brasil, maior produtor e exportador global, e a expectativa de melhora na oferta no Vietnã, na segunda posição, os preços nas bolsas internacionais já estão bem abaixo dos recordes registrados no início de ano.

No caso do café arábica, a cotação na bolsa de referência ICE caiu cerca de 25% ante a máxima histórica em fevereiro de mais de US$4,25/libra-peso. Já os grãos robusta estão negociados próximos de uma mínima de mais de dez meses, com recuo de mais de 30% ante o recorde, próximos de US$4.000/tonelada.

Apesar desse movimento já impactar os preços pagos aos cafeicultores brasileiros, consumidores ainda aguardam o repasse dos custos mais baixos pelas indústrias e supermercados.

O preço do café moído no Brasil, segundo maior consumidor global da bebida, voltou a subir em maio nas gôndolas dos supermercados, acumulando em 12 meses uma alta recorde de 82,24%, de acordo com o IBGE. Isso impactou negativamente o consumo, com queda de mais de 5% no primeiro quadrimestre, conforme a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic).