No fim da tarde da quinta-feira 10, uma movimentação diferente tomou conta do décimo andar do número 1.830 da avenida Presidente Juscelino Kubitschek, sede da Global Portfolio Strategists (GPS), empresa de assessoria e gestão de grandes fortunas, em São Paulo. No centro de um círculo de cadeiras que acomodavam grandes empresários e jovens herdeiros que fazem parte da clientela da empresa, a ex-senadora Marina Silva movia sua cadeira giratória para responder às perguntas que vinham de todos os lados. Entre os 50 convidados para a roda-viva estavam o publicitário Celso Loducca, o vereador Andrea Matarazzo (PSDB-SP), o deputado Walter Feldman (PSB-SP) e o secretário de Meio Ambiente de Pernambuco, Sérgio Xavier. 

MARINA-ABRE-FINAL-DIN835.jpg

Procurando votos : a improvável aliança de Eduardo Campos

e Marina Silva movimenta a corrida eleitoral

 

Durante duas horas, ela satisfez a curiosidade daqueles que podem ajudar a financiar sua participação na corrida presidencial de 2014. Sem conseguir o registro de partido político à sua Rede Sustentabilidade, Marina filiou-se no dia 5 ao Partido Socialista Brasileiro (PSB), do governador pernambucano Eduardo Campos, e agora viaja pelo País para promover a surpreendente chapa da dupla ao Palácio do Planalto. Na reunião promovida em conjunto pelo Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade), os convidados citaram sua fama de ambientalista radical e perguntaram sua opinião sobre o agronegócio.

 

 

 

Marina explicou que é a favor do agronegócio, setor que responde por 26% do PIB brasileiro, desde que ele seja sustentável, preservando o meio ambiente. Também foi questionada sobre como reconstruir a confiança dos investidores. Ela defendeu a manutenção das atuais políticas macroeconômicas, mas criticou a estratégia de campeões nacionais adotada pelo BNDES no governo Lula, privilegiando algumas empresas.Os encontros com empresários não são uma coisa nova para Marina. 

 

 

 

Dona de um capital político considerável ? 19,6 milhões de votos em 2010 e 26% das intenções nas pesquisas para o próximo ano ?, Marina também é capaz de mobilizar grandes representantes da economia. Entre seus principais interlocutores, no setor privado, estão o fundador da Natura, Guilherme Leal, que foi seu vice na eleição de 2010, e a acionista do Itaú Unibanco Maria Alice Setubal. Ambos são do conselho diretor do raps, que já tinha levado Eduardo Campos para um evento semelhante em setembro, e agora planeja convidar o senador Aécio Neves, pré-candidato tucano à Presidência.

 

 

 

No último fim de semana, um anúncio da Natura na imprensa trazia uma modelo de características físicas parecidas com Marina, fazendo uma conexão entre a rede social e o mundo real. O governador de Pernambuco, embora menos conhecido fora do Nordeste (tem apenas 6% de intenção de votos nas pesquisas), já era bem-visto pelos empresários. ?Eduardo Campos tem um discurso que agrada, porque ele aponta os erros do governo?, diz o cientista político Christopher Garman, da consultoria Eurasia, de Nova York. Já Marina, diz ele, pode ser vista como radical, ?mas os economistas que a apoiam são conservadores?. Entre eles estão Eduardo Giannetti, Paulo Sandroni, André Lara Resende, Ricardo Abramovay e Eliana Cardoso. 

 

Din835_Marina_36e37-2.jpg

 

 

Humberto Barbato, presidente da Abinee, entidade que reúne os fabricantes de equipamentos elétricos, diz que ainda é cedo para falar em apoio a um ou outro candidato, mas confirma a boa imagem de Campos por causa dos bons resultados em atração de investimentos e redução do desemprego em Pernambuco. ?O Eduardo Campos agora se tornou um candidato mais viável?, diz Roque Pellizzaro Jr., presidente da Confederação Nacional de Diretores Lojistas (CNDL). O dinheiro, claro, sempre se move na direção de quem tem mais chances de vitória. Por outro lado, a entrada de Marina na campanha de Campos incomoda certos líderes empresariais que antes apoiavam Campos.

 

 

 

É o caso do agronegócio. A entrada da senadora no PSB levou o deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO) a romper o acordo de aliança estadual com o partido, depois que a ex-senadora criticou o ruralista e disse que os dois não podiam ser aliados. A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), defendeu Caiado e criticou o que chamou de ?intolerância? de Marina. ?Para o setor rural, ela representa sempre um temor?, afirmou. O ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócios da Fundação Getulio Vargas, diz que ainda é cedo para avaliar se a presença de Marina vai agregar ou prejudicar a candidatura de Campos, mas confirma a desconfiança do setor. 

 

 

 

?Ela tem uma posição muito forte em defesa do meio ambiente, e isso, em algum momento, se chocou com os ruralistas?, confirma. Para um grande empresário do setor, a aliança mostra um copo meio cheio. ?É um alívio não ter mais a Marina como cabeça de chapa?, afirma. É a mesma opinião de Marcelo Moraes, presidente do Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico Brasileiro (Femase), que congrega empresas do setor elétrico. ?Se ela for vice do Eduardo Campos, é possível termos um diálogo maior?, afirma. ?Mas se sair para presidente, as conversas precisam evoluir muito para que ela consiga nosso apoio.? Questionada pela DINHEIRO sobre sua imagem de radical e o que pretende fazer para quebrar essas resistências, a ex-senadora desconversou. 

 

 

 

?Eu devo incomodar mesmo (alguns empresários), porque quando era ministra me chamavam de ecochata?, afirmou. Na corrida pelo capital, a vantagem é da presidenta Dilma Rousseff, que já é naturalmente procurada. Na terça-feira 8, ela recebeu um grupo de 52 mulheres diretoras e presidentes de empresas. Dois dias depois, reuniu-se com Marcelo Odebrecht, do grupo Odebrecht.  Aécio Neves, por sua vez, tem bom trânsito entre os empresários. 

 

 

 

Na mesma terça-feira 8, deu palestra em Nova York para um grupo de 600 investidores, num evento promovido pelo Banco BTG/Pactual. No fundo, o que está em discussão com o setor privado é o grau de intervenção do Estado na economia, diz o cientista político Carlos Pereira, da FGV. ?Uma parte do empresariado vai permanecer com Dilma, porque quer a intervenção do Estado?, afirma. ?Mas outra parte vai preferir uma economia mais de mercado e vai apoiar a oposição.?

 

 

> Siga a DINHEIRO no Twitter 

> Curta a DINHEIRO no Facebook