As gestoras do Banco do Brasil (BB DTVM) e da Caixa Econômica Federal (Caixa Asset) lideraram a captação líquida em fundos de investimentos no acumulado deste ano até o final de setembro. De acordo com o ranking de gestão da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), a líder BB DTVM exibiu aportes de R$ 78,62 bilhões em nove meses, seguido pela Caixa Asset, com entrada de R$ 16,48 bilhões em recursos. Juntas, as duas instituições receberam R$ 95,1 bilhões, o equivalente a 46% de toda a captação líquida da indústria de fundos, que totalizou R$ 207,7 bilhões no período.

Na sequência da lista da Anbima aparecem Itaú (com aportes líquidos de R$ 15,8 bilhões); Santander (R$ 13,16 bilhões); e a Kinea Investimentos (R$ 8,03 bilhões), gestora associada ao Itaú. Somadas, as cinco assets de melhor desempenho em volume alcançaram R$ 132,1 bilhões em recursos (63,6%), enquanto as demais 646 gestoras dividiram uma fatia de 36,4% ou R$ 75,6 bilhões.

Para explicar tamanha diferença é preciso lembrar que entre os grandes clientes das gestoras de bancos públicos estão entidades de previdência complementar aberta e fechada e também governos estaduais e prefeituras, cuja arrecadação ao longo do exercício fiscal é acumulada em fundos de curto prazo para pagamentos de salários do funcionalismo no final do ano, como o décimo terceiro salário dos servidores. Apenas como exemplo, vale citar que o segmento de cliente poder público possuía patrimônio de R$ 116,2 bilhões depositados na BB DTVM, e mais R$ 56,9 bilhões na Caixa Asset.

Quanto às diferenças de alocação, vale citar que em setembro, a BB recebeu novos volumes em fundos de renda fixa (+ R$ 4,08 bilhões), outros R$ 4,892 bilhões em fundos de investimentos em direitos creditórios (FIDCs), R$ 1,16 bilhão em planos de previdência e um montante menor em carteiras de ações (+ R$ 106 milhões). E a Caixa Asset mostrou entradas de R$ 3,84 bilhões em renda fixa, R$ 1,762 bilhão em multimercados e R$ 839 milhões em previdência.

Já nos bancos privados, os aplicadores preferiram compor as carteiras com ativos de maior risco em setembro. No Itaú, multimercados e fundos de ações tiveram alocação extra de R$ 1,9 bilhão, superando o volume adicional de R$ 1,575 bilhão para renda fixa, enquanto a previdência recebeu depósitos de R$ 431 milhões. No Santander Brasil, os multimercados captaram R$ 3,65 bilhões, superando o aporte de R$ 1,82 bilhão em renda fixa e os depósitos de R$ 491 milhões em previdência e R$ 170 milhões em carteiras de ações.

Carlos André, presidente da BB DTVM: “Há alguns meses estamos vendo uma mudança. As classes que estão conseguindo captar mais têm sido fundos de ações e multimercados” (Crédito:Divulgação)

Mesmo com a queda dos juros pós-fixados (Selic e DI) ao longo do ano, na avaliação de profissionais consultados, a entrada de recursos em renda fixa ainda está relacionada ao bom desempenho de carteiras IMA-B, concentradas em papéis de inflação com vencimentos mais longos, média de 11 anos. “Esse fundos com NTN-Bs e prefixados tiveram rentabilidade muito forte por causa do fechamento da curva de juros. O aplicador ainda olha pelo retrovisor, para o ganho passado, e acaba entrando nas carteiras, mas, agora, há pouco prêmio para capturar”, afirma o diretor de investimentos (CIO) da Infinity Asset, André Pimentel.

Ao mesmo tempo, fundos DI que cobravam altas taxas de administração no varejo estão registrando retiradas à medida que os cotistas percebem que os ganhos reais estão baixos ou até perdendo para a inflação. Pimentel aponta que pessoas físicas estão migrando para ações e multimercados. “Ainda que o ano de 2019 tenha sido muito bom para o ganho em renda fixa, o percentual em renda variável cresceu e continuará avançando em 2020”, diz.

O CEO da gestora de fundos imobiliários Integral Brei, Vitor Bidetti, diz que muitos investidores institucionais estão em processo de revisão das alocações. “Estou conversando com várias fundações e nas novas políticas de investimentos há um percentual a ser reservado para fundos imobiliários”, afirma.

QUEDA DOS JUROS Para o presidente da BB DTVM, Carlos André, a queda da taxa básica de juros (Selic) causa uma alteração estrutural no mundo dos investimentos. “Não só para nossa realidade, a do Banco do Brasil, e das soluções que a gente oferece, mas para pessoas físicas e investidores institucionais. Nós temos uma previsão de que a Selic encerra 2019 em 4,5% e em 2020 possa até atingir os 4% ao ano”, disse Carlos André após participar do Congresso Brasileiro de Previdência Complementar.

“Há alguns meses estamos vendo uma mudança importante, e quando se olha os números da indústria de fundos, as classes que estão conseguindo captar mais têm sido a de fundos de ações e multimercados, ganhando inclusive da renda fixa.
E dentro dessa última, estamos percebendo, uma mudança no mix, em que os papéis de empresas têm ganhado relevância, principalmente debêntures”, afirma.

Ao falar sobre a liderança da gestora na indústria de fundos, o executivo explicou que, mais do que bons produtos na prateleira, o banco está oferecendo um bom trabalho de assessoria para o investidor. “Isso é para minimizar o risco de aplicações que não se mostrem adequados lá na frente, e de alguma forma se percam oportunidades de melhorar o resultado entregue para os clientes”, diz. Isso vale para pessoas físicas e investidores institucionais. Segundo ele, nesse ambiente de juros baixos, o papel dos consultores e dos assessores que atendem os clientes nas agências é crucial.