29/12/2004 - 8:00
Rodrigo Lanari tem 27 anos e uma profissão antiga: ele é caixeiro-viajante. Formado pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, fluente em alemão e inglês, o jovem paulistano ganha a vida carregando uma pasta com mostruário da Deca, a divisão de material hidráulico da Duratex. A diferença entre ele, que já morou na Europa e nos Estados Unidos, e o velho caixeiro do passado, é que Lanari exerce a profissão distante das fronteiras do Brasil. Ele é um dos mil traders ? os mascates da globalização ? que viajam em tempo integral para as 400 empresas brasileiras que garantem o grosso das vendas externas do País. Segundo Roberto Giannetti da Fonseca, diretor de comércio exterior da Fiesp, há nesse mercado outros 2 mil traders que trabalham de forma intermitente. Juntos, eles conformam um exército de pelo menos 3 mil pessoas, a infantaria do comércio exterior brasileiro, cujos integrantes podem ser encontrados em qualquer aeroporto do mundo, em qualquer época do ano. Agora, com as exportações crescendo ao ritmo de 35% ao ano e as oportunidades de vendas se multiplicando, é muito provável que outros jovens peguem a mesma trilha que Lanari seguiu. Ele mesmo, convidado e promovido, prepara-se para trocar a Deca pela Expand, importadora de vinhos, no início de janeiro.
?Em viagem, a gente trabalha 24 horas por dia?, Lanari avisa aos interessados. Isso significa, por exemplo, passar 20 dias na Europa dormindo um dia em cada hotel. Ou sair à noite em Moscou, mesmo exausto, para tomar vodca com compradores que não falam uma palavra em inglês. Uma vez Lanari passou o dia com um potentado saudita que queria sua opinião para escolher um novo Mercedes. No Dubai, descobriu que os negócios só aconteciam se ele fosse convidado para um jantar doméstico. E aí aparecem as questões de etiqueta: fala-se com a mulher do anfitrião ou finge-se que ela não existe? Como se responde ao beijo no ombro de um sujeito que você acaba de conhecer? ?Ninguém faz pedidos na primeira vez, as decisões demoram, as pessoas só fazem negócios com amigos?, enumera o jovem vendedor. Nesse ambiente de trabalho, testam-se qualidades como iniciativa, simpatia, paciência e uma grande capacidade de improviso. ?Eu adoro?, diz Lanari. Ele está na trilha do comércio internacional há um ano e meio. Antes, estagiou em Dusseldorf na Thyssen Krupp, estudou em Viena e, aos 23 anos, montou em Chicago o escritório da Argos, exportadora paulista de autopeças. Não nasceu rico e fez todos os cursos no exterior com bolsas, usando as conexões da GV. Para ele, o comércio exterior é uma oportunidade de conhecer o mundo, ganhar dinheiro e deslanchar uma carreira global ? algo possível apenas porque o Brasil, finalmente, ganhou o mundo.