30/06/2001 - 7:00
Dezoito anos atrás, num dia escaldante de setembro, o mineiro Roberto Trevisan, 36 anos, viveu o lance mais arriscado de sua recém-completa maioridade. Em meio a um grupo de vinte pessoas, ele cruzou ilegalmente a fronteira que separa a cidade de Tijuana, no México, de San Diego, nos EUA. Entrou correndo e nem olhou para trás com medo de ser pego pela polícia norte-americana. ?Foram duas horas de desespero, ouvindo o barulho dos helicópteros e dos cachorros?, lembra ele. Quem conta essa história hoje é um jovem empresário cujas credenciais estão bem longe de qualquer indício de clandestinidade ou pobreza. Trevisan é atualmente o rei da calçada da cidade de Nova York. Sua empresa, a Trevisan Pavers Inc., é uma das maiores da Big Apple na área de pavimentação, com faturamento de US$ 3,5 milhões e 500 serviços executados por ano. Foi ela a responsável pelo calçamento de metade do Central Park, de toda a Estátua da Liberdade, do zoológico e do aquário municipal. Sua lista de clientes vips inclui reformas nas casas de Mike Tyson, Eddie Murph e Mariah Carey. De quebra, o mineiro ainda é amigo de Rudolph Giuliani, o prefeito da cidade. ?Hoje, eu domino Nova York?, diz.
Quando saiu do Brasil, ele mal falava inglês e tinha como patrimônio as roupas do corpo e US$ 1 mil que havia pego emprestado com um tio em Poços de Caldas, sua cidade natal. Nos EUA, deu duro para se manter. Foi lavador de pratos e trabalhou como pedreiro. A sorte lhe bateu à porta quando foi chamado para fazer a entrada da garagem de um empresário italiano. ?Vimos que tínhamos a mesma origem e ele passou a me indicar clientes na comunidade italiana?, conta. O brasileiro, então, conseguiu o greencard, concluiu os estudos e se tornou empresário. ?Montei um time afiado e venci várias licitações para obras do governo.?
O filão garantiu prosperidade ao mineiro. Ele vive numa mansão perto de Manhattan com a mulher e os filhos e passa o tempo livre em outra casa luxuosa em Long Island, a 110 km da ilha. Anda a bordo de um Mercedes e mantém um Jaguar reluzente na garagem. Resolveu diversificar os negócios investindo em reforma de casas antigas para aluguel e revenda e hoje é dono de 24 imóveis em Nova York. Também acaba de realizar um sonho antigo: lançar um CD em que canta forró. O rei da calçada, acredite, abriu uma gravadora no Brasil, a Trevisan Records ? da qual é o primeiro artista ? e diz que daqui a dois anos vai se dedicar apenas à carreira de cantor. ?Aí a música brasileira vai ter dois reis. O da música romântica será Roberto Carlos e o do forró, o Trevisan.? Pretensioso?