12/09/2014 - 20:00
A menos de 30 dias das eleições presidenciais, a agência de classificação de risco Moody’s alterou, na terça-feira 9, a perspectiva da nota da dívida pública do Brasil de “estável” para “negativa”. Na prática, houve uma sinalização de que, em breve, o rating do País pode ser reduzido. Como o País está dois níveis acima do grau de investimento, o provável rebaixamento não ameaça o seu selo de segurança. Entre os pontos elencados para justificar a decisão, a agência mencionou o baixo crescimento econômico, a queda da confiança dos investidores e a piora do quadro fiscal.
A Moody’s, como veremos a seguir, está correta na sua análise econômica, mas o timing da divulgação é absolutamente infeliz. Desde o vigoroso “pibão” de 2010, com uma alta de 7,5%, o Brasil vem patinando. Em 2014, especialmente, a economia deverá colher um “pibinho”, com expansão inferior a 1%. Nesse quesito, portanto, a Moody’s está coberta de razão em sua decisão. Um país que cresce tão pouco não consegue melhorar os seus indicadores econômicos e ainda corre o risco de ver algumas de suas conquistas sociais recentes se perderem no meio do caminho.
Em meio ao debate eleitoral, a oposição crucifica a política econômica do governo, que, por sua vez, culpa a crise internacional pelo pífio desempenho atual. Os dois lados têm uma parcela de razão, mas é inegável que o Brasil crescerá menos que seus vizinhos latino-americanos – não vale colocar nessa lista a Argentina e a Venezuela. Aí, a comparação seria covardia. Nesse contexto, a queda de confiança dos investidores parece ser uma decorrência natural do quadro econômico. Sem perspectivas claras de uma retomada, os empresários não desengavetam seus projetos, criando um círculo vicioso, do qual também participam os consumidores receosos de um aumento do desemprego.
Por fim, a tendência de elevação da dívida do governo, apontada pela Moody’s como uma das justificativas para a perspectiva negativa da nota brasileira, reflete um excessivo volume de gastos governamentais, uma máquina pública inchada e uma clara desaceleração na arrecadação, fruto do “pibinho”. Portanto, novamente é preciso ressaltar o acerto na análise feita pela agência de classificação de risco. O ponto central da discussão, no entanto, é o timing do anúncio feito pela Moody’s, justamente quando os três principais candidatos – Aécio Neves, Marina Silva e Dilma Rousseff – já se comprometeram a mudar a política econômica.
Alguém dirá que num ambiente democrático as agências de classificação de risco, embora tenham errado vergonhosamente na crise de 2008, têm o direito de se manifestar quando bem entenderem (assim como o distinto público é livre para levar a sério as suas análises depois de tantos tombos ao longo dos tempos). Desse episódio, portanto, fica a impressão de que a Moody’s não acredita no compromisso dos candidatos com um ajuste econômico e, por isso, não vê motivos para aguardar os seus efeitos. As urnas, de forma soberana, definirão o líder cuja missão será recolocar a economia brasileira nos trilhos. Se vai dar certo ou não, só o tempo dirá. Até lá, só nos restar dizer: calma, dona Moody’s!