28/08/2022 - 11:35
A capital da Líbia, Trípoli, registrava um domingo relativamente calmo após os confrontos entre grupos armados, na sexta-feira e sábado, que deixaram pelo menos 32 mortos e mais de 150 feridos.
Grande parte do comércio retomou as atividades e os voos que haviam sido suspensos no aeroporto de Mitiga – o único da capital – foram retomados. As escolas anunciaram que os exames que estavam previstos para domingo acontecerão na segunda-feira.
Mas os danos provocados pelos combates violentos são visíveis em toda a cidade, como os muros com marcas de tiros em muitos edifícios e as dezenas de carros incendiados. Seis hospitais foram atingidos pelos ataques.
Ao menos 32 pessoas morreram e 159 ficaram feridas nos confrontos em vários bairros da cidade, segundo um balanço atualizado pelo ministério da Saúde e divulgado neste domingo.
A violência provoca o temor de um conflito em larga escala no país do leste da África, devastado por anos de violência.
Dois governos disputam o poder na Líbia desde março.
Um tem sede em Trípoli (oeste) e é comandado por Abdelhamid Dbeibah desde 2021, resultado de um processo de paz liderado pela ONU após um ciclo de violência.
O outro é liderado pelo ex-ministro do Interior Fathi Bashagha e está radicado em Sirte (centro do país), com o apoio do marechal Khalifa Haftar, considerado o homem forte do leste.
– Grupos instáveis –
Os combates terminaram no sábado com o fracasso da tentativa de Bashagha de derrubar o governo de seu rival, segundo a imprensa local e analistas.
Grupos armados considerados neutros na disputa política, como Force al-Radaa, se alinharam com o movimento de Dbeibah e tiveram um papel decisivo no fim dos confrontos.
A ONU fez um apelo “às partes para que iniciem um verdadeiro diálogo para solucionar a estagnação política atual e não utilizem a força para resolver suas divergências”.
As tensões entre grupos armados leais aos dois governos aumentaram nos últimos meses em Trípoli.
A Líbia está em crise há mais de uma década, com vários episódios de conflito armado após a queda do ditador Muamar Khadafi em uma revolta apoiada pela Otan em 2011.
Desde então, o país teve diversos governos e não conseguiu organizar eleições presidenciais devido às grandes divergências.
Esta foi a segunda tentativa de Bashagha de derrubar o rival, após uma operação frustrada em maio.
A escalada de violência não tem precedentes desde junho de 2020, quando o marechal Haftar tentou, sem sucesso, conquistar militarmente a capital.
O governo provisório em Trípoli foi resultado no início de 2021 de um processo mediado pela ONU, com o objetivo de organizar eleições.
O Parlamento com sede no leste considera que o mandato de Dbeibah acabou e designou em fevereiro Bashagha como primeiro-ministro. Dbeibah, por sua vez, garante que só entregará o poder a um governo eleito.
A segurança no país é problemática, em particular na capital, onde existem várias milícias influentes.
“Os grupos armados que ficaram do mesmo lado nos combates de ontem (sábado) em Trípoli se enfrentarão no futuro por território, cargos ou pelo orçamento. As facções que eram pró-Dbeibah ontem vão desafiá-lo amanhã. É uma história sem fim”, resumiu no Twitter Wolfram Lacher, analista do instituto alemão SWP.