O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira, 2, que o câmbio flutuante é um dos pilares da matriz econômica do país, reiterando que a autarquia só atua no câmbio em caso de disfuncionalidades.

+ Galípolo sinaliza ‘juros elevados por mais tempo’

“Efetivamente, a gente vai continuar fazendo atuações só por questões de disfuncionalidades, como essa de você ter uma sazonalidade de final de ano de dividendos que vão para fora e coisas desse tipo”, afirmou, ao responder pergunta sobre o tema no XP Fórum Político, do banco XP.

De acordo com o diretor, o câmbio flutuante “está cumprindo seu papel muito bem” e, junto das reservas internacionais, é um mecanismo de defesa “bastante relevante” no enfrentamento de desafios globais.

Ele disse não esperar mudanças na política cambial do BC com a chegada de Nilton David, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assumir a diretoria de Política Monetária a partir de janeiro, quando Galípolo tomará posse como presidente do banco.

Dólar em alta

A fala de Galípolo sobre a atuação do BC no mercado de câmbio ocorre em meio à crescente desvalorização da moeda brasileira em sessões recentes, movimento que gerou expectativa por novas intervenções da autarquia em parte do mercado. Na sexta-feira, o dólar à vista fechou o dia com alta de 0,17%, cotado a 6,0012 reais — maior valor nominal de fechamento da história.

A queda do real ocorre na esteira da reação negativa do mercado ao duplo anúncio do governo na semana passada de um projeto de reforma do imposto de renda e de um pacote de medidas de contenção de gastos.

Investidores avaliaram que o pacote fiscal, que prevê uma economia de 71,9 bilhões de reais em dois anos, veio na direção correta, mas o anúncio da reforma do IR, que busca expandir a faixa de isenção para quem ganha até 5 mil reais, teria sinalizado um descompromisso do Executivo com o ajuste fiscal.

Galípolo disse enxergar o anúncio das medidas como um fator relevante tanto para a desvalorização do real como para a desancoragem adicional das expectativas de inflação. Ele indicou, no entanto, que a autarquia não tem dados suficientes para avaliar o impacto da proposta do IR.

“Tenho duas reformas tributárias para me queixar que eu não tenho dados suficientes para entender o impacto”, disse.

“Na primeira reforma tributária (do consumo) eu já me queixava que precisava de mais estudos para entender como vai impactar preço. Isso não está claro… Agora tem que fazer sobre qual o impacto da (reforma da) renda.”

Ele disse entender que o Ministério da Fazenda, do qual foi secretário-executivo entre janeiro e junho de 2023, aceitou o desafio de “mudar completamente” a estrutura fiscal do país.

Na última vez que entrou no mercado de câmbio, no mês passado, o BC vendeu 4 bilhões de dólares em dois leilões de linha (venda de dólares com compromisso de recompra) para lidar com uma demanda maior pontual.

Tradicionalmente, a autarquia costuma realizar leilões de linha nos finais de ano, em especial em dezembro, para atender à demanda por moeda para envio ao exterior.

Juros em alta “por mais tempo”

Gabriel Galípolo disse ainda que o cenário econômico atual aponta para uma política monetária “mais contracionista” por parte da instituição, sinalizando “juros mais altos por mais tempo” no Brasil.

Falando em um evento organizado pela XP, ele disse ser “lógico” tal direcionamento para a taxa Selic diante de uma economia com maior dinamismo do que o esperado e uma moeda mais desvalorizada, mas se recusou a fornecer um guidance para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

“Parece relativamente lógico imaginar isso e (foi) em cima desse movimento que aconteceu ao longo do ano que o Banco Central foi migrando gradativamente de um ciclo de corte para uma pausa e (para) o ciclo de alta de juros”, disse o diretor do BC.

Ele disse que a autarquia iniciou um ciclo de cortes de juros em agosto de 2023, que levou a Selic a 10,50% ao fim do período de afrouxamento, por haver uma perspectiva de desaceleração da economia brasileira naquele momento, que tem se “frustrado sistematicamente”.