25/12/2020 - 10:08
A miniatura de uma árvore pendurada na cabine de alguns caminhões é o único objeto que recorda o Natal na pista de um aeroporto desativado do sul da Inglaterra, onde milhares de caminhoneiros, retidos longe de suas famílias, aguardam por exames de covid-19 para conseguir retornar para seus países.
“Não tenho palavras para descrever como nos sentimos. Nossas famílias estão esperando, parte o coração”, afirmou à AFP o polonês Pawel, 34 anos, que conseguiu fazer o teste.
Depois do exame, ele pretende viajar até Folkestone, onde fica o terminal que permite seguir até o túnel do Canal da Mancha para “retornar à Polônia”.
Milhares de motoristas ficaram bloqueados quando a França, preocupada com uma nova cepa do coronavírus potencialmente mais contagiosa e identificada no sudeste de Inglaterra, fechou as fronteiras para pessoas procedentes do Reino Unido. A medida incluiu Dover, o principal porto que atravessa o estreito, e o túnel vizinho, por onde circulam milhares de caminhões todos os dias.
Além das laterais da rodovia M20, os caminhões ficaram estacionados na pista do antigo aeroporto de Manston, formando filas impressionantes, o que refletiu a dimensão do desafio de organizar testes de coronavírus para todos os motoristas.
A França autorizou a retomada do tráfego na quarta-feira, mas com a exigência de um teste negativo, o que implica dias de trabalho para obter os resultados dos exames, apesar da mobilização do exército e de uma equipe de bombeiros franceses. E apesar do período de Natal.
Pawel afirma que os motoristas estão furiosos com a França. E durante a viagem de retorno não pretendem parar no país “nem para comer, descansar ou qualquer outra coisa”.
Os caminhoneiros aguardam estacionados na pista, no frio, praticamente sem iluminação e sem saber quando poderão retornar, apesar do anúncio de que o tráfego prosseguiria no dia de Natal.
No porto de Dover, alguns enfrentaram momentos de tensão com a polícia.
Várias associações organizaram campanhas para oferecer refeições aos motoristas, especialmente entre a comunidade polonesa.
Banheiros portáteis foram instalados, mas em número insuficiente, segundo os trabalhadores.
“Estamos bloqueados há três dias”, conta Valéri, um ucraniano de 37 anos, que ainda não conseguiu fazer o teste. “Ficamos estacionados e nos disseram para esperar. Temos que ir para casa agora. Talvez consigamos chegar a tempo para o Ano Novo”, espera.
“Não há instalações, nem chuveiro, nada”, lamenta.
Outros motoristas afirmam que chuveiros foram instalados, mas que é necessário caminhar por muito tempo pela imensa pista para chegar ao local.
“A situação é terrível”, disse o búlgaro Radko Ivanov, de 56 anos, que denuncia a falta de organização.
Na quinta-feira ainda restavam 3.200 caminhões e pelo menos 1.800 motoristas já haviam sido submetidos ao teste, segundo o exército britânico.
Mais de 300 soldados atuam para organizar os testes em Manston, Dover e na rodovia M20.