O Ambulatório Médico de Especialidades (AME), em Campinas (SP), recebeu quatro pacientes com a covid-19 transferidos da Região Metropolitana de São Paulo, onde a oferta de leitos beira o colapso. Autoridades de saúde e o prefeito, Jonas Donizette (PSB), afirmam que a cidade não tem como suportar essa demanda extra. O temor é de sobrecarga na rede de atendimento local – referência para uma região de 6,5 milhões de habitantes – e aumento da transmissão do coronavírus, ainda abaixo da média estadual.

Sem detalhar, o secretário estadual da Saúde, José Henrique Germann, afirmou que já transferiu 15 pacientes da região metropolitana de São Paulo para outros locais, uma vez que a lotação no interior do Estado ainda é menor do que na capital.

“Nós temos duas preocupações”, afirmou o secretário municipal de Saúde de Campinas, Cármino Antônio de Souza. “Uma de que não sejamos capazes de atender esse volume (de pacientes). Mas a maior preocupação que nós temos é a circulação de pessoas que estejam convivendo com quem seja covid-19 positivo. Isso aumentaria o fluxo de parentes, amigos e pessoas que eventualmente viriam para a cidade”, explicou.

Maior cidade o interior paulista, Campinas registrou até a segunda-feira 403 casos confirmados da doença e 22 mortes. Há outros 157 casos suspeitos.

Transferidos

A reportagem apurou que os doentes foram enviados para Campinas de forma excepcional, levando em consideração a localidade onde estavam na Grande São Paulo (Francisco Morato e Franco da Rocha), sendo mais fácil sua transferência para o interior, do que para outra região no entorno da capital. Balanço da Secretaria de Estado da Saúde mostra que a taxa de ocupação dos leitos de UTI reservados para atendimento a covid-19 no último sábado era de 88,8% nas cidades da Região Metropolitana da capital, enquanto no Estado essa média era de 67,9%.

O prefeito de Campinas, Jonas Donizette, afirmou que já pediu ao governo do Estado para que a rede local seja preservada nesse processo de transferência de internados, quando a capital chegar ao colapso.

“Não dava para a gente fazer esse recebimento com pena de colocarmos a perder o trabalho que fizemos de aumento dos leitos, de preservar leitos”, afirmou o prefeito.

Na semana passada, a prefeitura anunciou seu plano para retomada gradual das atividades econômicas, que leva em conta a taxa reduzida e estável de contágio na cidade. O secretário municipal de Saúde afirmou que o atendimento que a cidade faz de referência para a região metropolitana de Campinas também torna inviável o recebimento desses doentes da Grande São Paulo.

Sede de uma área regional de saúde de 42 cidades do interior paulista, Campinas tem duas unidades públicas estaduais de referência para atendimentos da covid-19: o recém-inaugurado AME Campinas e o Hospital das Clínicas (HC) da Unicamp. Juntos, eles têm 66 leitos de UTI reservados para pacientes com a doença e taxa de ocupação bem abaixo das registradas na Grande São Paulo.

A reportagem apurou, porém, que a Central de Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde (CROSS) do Estado reconhece que Campinas tem um quadro subdimensionado para atendimento da região, problema histórico que se agrava todo ano no inverno, com aumento de casos de doenças respiratórias, e deve tratar a cidade somente como opção emergencial. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.