A francesa Simone de Bruchard, 82 anos, mora há 53 em Porto Alegre. Cultiva gostos da pátria de origem, como a leitura dos clássicos franceses, e outros bem gaúchos, como o chimarrão diário. 

Seus hábitos também se renovam. Há um ano, ela compra e vende ações pela internet e, nos últimos meses, passou a investir em commodities orientada por seu assessor de investimentos.“Opero café, soja e milho”, diz ela. 

 

O objetivo é aproveitar o bom momento do agronegócio brasileiro. Como dona Simone, muitos outros investidores estão lançando suas poupanças no chão fértil dessas aplicações. 

 

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Diego Novais, 22 anos: “Vendi um carro para comprar ações e descobri nas commodities uma rentabilidade de até 40%”

 

Em janeiro, os pequenos investidores nos mercados futuro, a termo e de opções de commodities na BM&F representaram 40,3% dos negócios. Em 2010, com a pressão internacional dos preços dos alimentos, quem investiu em commodities ganhou muito mais do que os juros e as ações, em média. 

 

As próximas safras prometem ser gordas: os preços da soja, milho, algodão e também do boi deverão se manter fortalecidos. “O cenário será positivo pelo menos nos próximos dois ou três anos”, diz Carlos Dupas, da Ativacon Corretora, de Mato Grosso do Sul. 

 

Uma safra tão vistosa de lucros chamou a atenção dos investidores diante de uma bolsa que rendeu pouco mais de 1% no ano passado. Quem quiser semear neste mercado pode começar comprando contratos a partir de R$ 1 mil. 

 

É o caso do universitário carioca Diego Novais, 22 anos, que vendeu um carro para investir em ações e em seguida partiu para as commodities. O mercado de boi foi o que proporcionou a melhor colheita. 

 

“O resultado varia muito, mas consigo ganhos de até 40% em cada operação”, afirma. Quem quer colher esses rendimentos tem que estar disposto a assumir riscos. “O investidor no mercado futuro está sujeito a oscilações repentinas dos preços”, diz Aires Funes, responsável pela mesa de commodities da Prosper Corretora. Uma chuva inesperada, a quebra de uma safra fora do Brasil ou a mudança de humor no mercado internacional afetam os preços imediatamente. 

 

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Simone de Bruchard, 82 anos “Opero milho e soja há alguns meses para diversificar os investimentos”

 

Quem prefere correr menos risco pode partir para as aplicações de renda fixa, como as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA). Esses títulos são garantidos por empréstimos concedidos por um banco a um produtor rural e pagam juros levemente inferiores aos das taxas de mercado, mas com uma enorme vantagem: o rendimento é isento de imposto de renda. 

 

Ao comprar uma LCA, o investidor corre o risco (baixo) de o banco quebrar e também o de o produtor não pagar o banco – uma probabilidade não tão baixa assim (o que leva muitos investidores a preferir as LCIs, papéis lastreados em ativos imobiliários, considerados mais seguros). 

 

Há outro risco: as LCAs são aplicações longas, sem liquidez. “O investidor só pode resgatar na data de vencimento da aplicação”, diz Osvaldo Cervi, diretor do private banking do BB. Se o mercado mudar, é preciso esperar a hora da colheita.

 

O estoque desses títulos, que servem como fontes alternativas de crédito para as empresas agrícolas, cresceu 31% nos 12 meses até janeiro passado e atingiu R$ 12,9 bilhões. 

 

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“As LCAs são o carro-chefe do agronegócio. Temos sido muito procurados pelos bancos para a emissão desses ativos”, diz Ricardo Magalhães, gerente de desenvolvimento de produtos da Cetip. 

 

De olho no crescimento da demanda, o Banco do Brasil começou a emitir LCAs em agosto do ano passado e já lançou R$ 1 bilhão nesses papéis, que são oferecidos para os clientes de alta renda e deverão estar disponíveis no segmento Estilo, para os fregueses com no mínimo R$ 100 mil para investir.

 

No BB, a aplicação está disponível para investimentos a partir de R$ 1 milhão, embora, pelas regras do mercado, ela possa ser oferecida a investidores qualificados, com recursos acima de R$ 300 mil. 

 

A rentabilidade é de 85% dos juros de mercado medidos pela taxa dos CDIs, o que representa cerca de 10% ao ano livre de impostos. Para comparar, uma aplicação de renda fixa convencional de um ano que renda 100% dos CDIs, já descontados os 20% de imposto, renderia 9,6%.