24/05/2024 - 17:08
O custo de rolagem da dívida global “preocupa bastante” e traz risco de liquidez, tema que deverá ser debatido nos próximos seis meses, disse Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, durante o X Seminário Anual de Política Monetária, do Centro de Estudos Monetários (CEM) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), no Rio de Janeiro. “Desde o ano passado, eu tenho uma grande preocupação com o tema da dívida pública global. Se você olhar a dívida de EUA, Europa e Japão, a gente está falando de dois terços da dívida, com um custo de rolagem que multiplicou por 3,4 vezes”, comentou.
Para ele, com o custo do endividamento global, as empresas já reagem nas decisões sobre rolagem de seus débitos. “O custo de rolagem é uma coisa que preocupa bastante. Isso já começou a mostrar rachaduras”, comentou. “Já há um movimento de empresas olhando e falando ‘eu não quero rolar essa dívida nesse preço. Então, vou aceitar ficar com um duration mais baixo’.”
Na avaliação de Campos Neto, a perspectiva é de risco de liquidez no horizonte. “É muito difícil de imaginar que dois terços da dívida global custam 3,4 vezes mais caro, que a dívida subiu 15% do PIB nesse período e que a gente vai passar isso sem nenhum problema de liquidez em algum momento”, afirmou. “É impressionante o quanto isso vai tirar de liquidez até o final de 2025. Vejo que isso é pouco falado”, apontou, acrescentando: “É um tema que vai ser debatido nos próximos seis meses.”
Rearranjo das cadeias
Abordando o tema do comércio internacional, Campos Neto frisou que as exportações globais hoje estão muito concentradas em serviços digitais e apontou, como tema atual, a remontagem das cadeias, na qual o Brasil pode se inserir com o movimento de nearshoring (transferência de operações de negócios para países próximos) e de friendshoring (realocação de partes da cadeia de suprimentos para países que têm relações políticas estáveis). “A gente sempre imagina que o Brasil é um excelente candidato.”
O presidente do BC também apontou que México e Vietnã permanecem como destinos de investimentos internacionais. “Quando se fala em greenfield, a gente basicamente está falando de México e Vietnã. A gente não viu muito investimento em outros países”, citou, complementando: “Para as empresas, isso está muito mais custoso do que se imaginava.”