O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse neste sábado, 24, que a volatilidade recente pode estar mostrando que o mercado está precificando menos espaço para intervenções fiscais e monetárias no futuro.

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Esta semana, banqueiros centrais de todo o mundo viajaram para Jackson Hole para participar do principal encontro econômico do mundo, o simpósio anual do Fed de Kansas City, no Parque Nacional de Grand Teton.

O painel em que Campos Neto falou foi sobre a transmissão monetária ou como os movimentos das taxas de juros realmente afetam a atividade econômica ou estão tendo menos efeito do que tradicionalmente esperado.

Campos Neto, cujo mandato termina em dezembro, disse que a desaceleração da economia da China pode impactar o Brasil por meio de um choque nos termos de troca ou de preços mais baixos de importação de produtos chineses, embora o efeito líquido dependa da dimensão da desaceleração.

Juros

As suas observações seguem-se aos recentes esforços de comunicação dos membros do Copom para enfatizar que o banco central permanece unido, considerando todas as opções para a próxima decisão de política monetária, prevista para a reunião de 17 a 18 de setembro.

Campos Neto e outros diretores do BC destacaram que não existe uma orientação definida para o futuro, uma postura que descreveram como dependente de dados.

Em julho, o Copom manteve a taxa de juros inalterada em 10,5% pela segunda vez consecutiva, mas a retórica foi endurecida, citando a necessidade de ainda maior cautela e acompanhamento diligente dos fatores condicionantes da inflação.

A inflação anual atingiu 4,5% em julho, afastando-se ainda mais da meta oficial de 3%.

Apostas embutidas na curva de juros futuros estão prevendo uma chance de mais de 80% dos juros subirem no próximo mês, o que, se confirmado, ocorrerá enquanto o Fed prepara um afrouxamento monetário.

Comunicação

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ainda que discutir a transmissão da política monetária se tornará cada vez mais difícil sem abordar as questões fiscais e citou o peso crescente da dívida pública diante da expansão dos gastos dos governos.

Campos Neto destacou que os programas de transferência de renda implementados durante a pandemia são agora maiores e tornaram-se permanentes.

No Brasil, 50 milhões de pessoas estão “ganhando dinheiro do governo, em comparação com 43 milhões de pessoas que são empregados e empresários”, acrescentou.

Sem mencionar diretamente o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ele afirmou: “Precisamos pensar em uma estratégia precisa e compreender a eficiência desses programas governamentais, especialmente nos países de mercados emergentes, e o que isso fez com a dívida.”

“Acho que precisamos começar a comunicar melhor a má alocação de recursos.”