Extrema direita alemão se apropriou de antigo hit italiano, inserindo refrãos xenófobos. Levantamento mostra versão deturpada da música tem se espalhado pelo país, levando ao registro de centenas de ocorrências policiaisL’amour toujours, do DJ italiano Gigi D’Agostino, é, na verdade, uma canção de amor. Mas a música festiva lançada em 1999 foi sequestrada recentemente pela extrema direita alemã, desencadeando ocorrências policiais por toda a Alemanha.

Em maio, a música entrou no radar da polícia e da imprensa do país após a divulgação de um vídeo que mostrava um grupo de jovens em uma casa noturna de alto padrão na ilha de Sylt, na costa alemã do Mar do Norte, entoando a melodia da música e substituindo a letra original por gritos de “Alemanha para os alemães, fora, estrangeiros”. Nas imagens, ao menos um dos participantes parece fazer a saudação nazista, enquanto coloca dois dedos entre o lábio superior e o nariz, imitando o bigode de Adolf Hitler.

Agora, segundo uma pesquisa da rede jornalística Redaktionsnetzwerk Deutschland (RND), o uso da versão deturpada da música parece ter se espalhado por todo o país.

Segundo o levantamento da RND, de outubro de 2023 a junho de 2024, a polícia registrou 368 ocorrências na Alemanha envolvendo casos de uso de slogans xenófobos ou a exibição de símbolos inconstitucionais ao som da música pop italiana.

Houve incidentes em festas populares, em encontros privados em jardins e até em salas de aula. Frequentemente, os crimes são cometidos por jovens, que publicam os vídeos no Instagram ou no Snapchat. A paródia de mau gosto foi cantada diversas vezes nos pátios de escolas e pelo menos uma vez durante uma aula.

Sem dados da Baviera e da Saxônia

Questionados pela RND, os 16 estados federais da Alemanha detalharam o número de casos conhecidos e o que exatamente ocorreu. A maioria foi registrado na Renânia do Norte-Vestfália, estado mais populoso da Alemanha: de novembro a junho, foram 96 chamadas policiais em decorrência de comentários racistas e inconstitucionais enquanto a música era tocada ou entoada, ou seja, quase um quarto do total.

No início de julho, Baden-Württemberg somava 40 casos e Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, 45. Segundo informações da RND, a Baviera (onde fica Munique) e a Saxônia (onde estão Leipzig e Dresden e estado no qual o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha é bastante popular) foram os únicos estados que disseram não ter condições de fornecer os dados solicitados.

Canção por si só não é crime

Tocar a música por si só não constitui crime, como explicou a polícia de Berlim à RND – até porque trata-se de um hit extremamente popular.

De acordo com o Ministério Público de Neuruppin, no estado de Brandemburgo, mesmo o infame refrão da paródia que diz “Alemanha para os alemães, estrangeiros fora” por si só não é passível de punição.

Mas, o que ocorre é que, muitas vezes, ao mesmo tempo em que a música é tocada, é feita a saudação nazista ou simulado, por exemplo, um bigode que remete ao de Hitler. Quando isso ocorre, pode ser caracterizado como crime.

A música original ganhou uma versão xenófoba que viralizou em maio, quando o vídeo do incidente no bar Pony-Club, na ilha turística de Sylt se espalhou pela internet. Incidentes semelhantes foram posteriormente relatados em festas populares na Baviera e na Baixa Saxônia.

le (AFP, EPD, RND)