22/03/2022 - 19:16
A candidata do presidente americano, Joe Biden, à Suprema Corte dos Estados Unidos, a juíza negra Ketanji Brown Jackson, defendeu-se energicamente nesta terça-feira (22) de quem questiona suas sentenças em casos de pornografia infantil, ao ser consultada por senadores.
“Nada mais distante da verdade”, respondeu aos ataques do senador republicano Josh Hawley, que a acusa de ter proferido como juíza sentenças inferiores aos padrões em vários casos de pornografia infantil.
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Estes casos são alguns “dos mais difíceis”, acrescentou, afirmando que o marco legal era impreciso, o que gera grandes disparidades nas penas. Mas assegurou que sempre se assegurou de que “as vozes dos menores estivessem representadas” em suas sentenças.
Indicada por Biden, a juíza Jackson, de 51 anos, precisa de luz verde do Senado para se tornar a primeira mulher negra do tribunal superior americano. Salvo uma surpresa, conseguirá votos suficientes durante uma votação em plenário no começo de abril para substituir o progressista Stephen Breyer.
Segundo uma consulta da Politico-Morning, 47% dos americanos querem que seja confirmada e apenas 19% se opõem. Em qualquer caso não vai alterar o equilíbrio dentro do templo da lei americana, onde os conservadores manterão uma maioria de seis de um total de nove.
– Irmão policial –
Por todas estas razões, os republicanos não têm a intenção de se esforçar demais para derrubar sua candidatura. Mas, faltando apenas sete meses para as eleições de meio de mandato, estão usando as audiências da juíza Jackson para expor seus temas de campanha, a começar com o aumento da delinquência que atribuem à fragilidade do governo democrata.
Na segunda-feira atacaram Jackson por defender os presos de Guantánamo ou criminosos quando era advogada em Washington de 2005 a 2007.
Ela, por sua vez, lembrou na terça-feira, com voz tranquila, que não elegia seis clientes e “não aprovava” suas ações. Mas nos Estados Unidos qualquer acusado tem direito a um advogado. E insistiu: “isso é o que faz nossa grandeza” e esta experiência foi “benéfica” para seu trabalho como juíza federal a partir de 2013.
A juíza Jackson destacou que se esmerou em explicar-lhes “o dano que causaram” para que assumissem suas responsabilidades e começassem seu trabalho de reinserção.
Os senadores democratas saíram em sua defesa e ressaltaram que a juíza tinha contado com o apoio dos sindicatos policiais.
“Como alguém que teve familiares na linha de fogo, me preocupo profundamente com a segurança pública”, destacou ela, lembrando que seu irmão e dois de seus tios são ou foram policiais.
O senador republicano Lindsey Graham disse que o preocupava que várias “associações esquerdistas” apoiem sua candidatura e lhe perguntou se era “militante”.
“Não”, respondeu ela, reforçando que não permite que seus “pontos de vista pessoais e preferências” influenciem na hora de tomar decisões.
Em temas políticos, segundo o costume, mostrou-se evasiva.
Não quis fazer comentários sobre os apelos, feitos por vários congressistas e associações de esquerda, para criar novos postos na Suprema Corte a fim de mitigar a influência dos magistrados conservadores. “Na minha opinião, os juízes não devem falar de política”, afirmou.