Ao longo de duas horas e meia do debate que precedeu o pleito do presidencial do próximo domingo (2), exibido pela rede Globo na noite de quinta-feira (29), a ausência de discussões coerentes sobre o futuro da economia nos quatro blocos não foi um acaso, mas um método.

Ao privar o eleitor de entender de forma profunda os objetivos econômicos dos candidatos, a cena política atual dificulta o caminho para escolha pautada na inteligência, e apela para apenas para emoção. No decorrer do debate, a palavra economia foi citada somente sete vezes, e apenas duas delas dentro de uma construção que apresentasse propostas e diretrizes reais de quem pleiteia a presidência da República.

Para ajudar o eleitor a entender o que disseram os candidatos, resumimos a seguir as acusações, falas imprecisas e ataques que dominaram a discussão.

Luiz Inácio Lula da Silva

Com grande parte de seu tempo dedicado a se defender de acusações de corrupção, o petista trouxe pouca novidade no ramo econômico. Uma delas foi a informação de que seu governo fechará estatais federais que não dão lucro, ao responder uma questão de Simone Tebet sobre privatizações.

Jair Bolsonaro

O atual presidente usou boa parte de seu tempo desviando de perguntas e terceirizado responsabilidades, em especial direcionando ao Congresso Nacional questões sobre gastos excessivos e pouco transparentes como as ligadas ao orçamento secreto. Sem apresentar nenhuma proposta nova, insistiu apenas na manutenção do Auxílio Brasil.

Ciro Gomes

O candidato do PDT foi duro em suas críticas ao ex-presidente Lula. Na economia, porém, foi quem mais apresentou propostas. Uma é a redução de dependência do Banco Central em relação aos grandes bancos para diversificar o crédito. Ciro também falou na criação de 5 milhões de empregos com investimento em obras públicas. Outra medida melhor explicada foi a liberação de R$ 300 bilhões com uma reforma fiscal, com R$ 200 bilhões para estimular a economia e R$ 100 bilhões para desonerar impostos sobre o que as famílias de baixa renda consomem.

Simone Tebet

A senadora do MDB explorou seu tempo no ar para tratar duas vezes de um mesmo tema, relativo à privatização da Petrobras. Disse não ter interesse em dar sequência ao plano do atual governo de desestatizar a petroleira, mas sim em passar refinarias para a iniciativa privada.

Soraya Thronicke

A candidata foi quem se aproximou mais vezes da pauta econômica, mas sempre com o mesmo enfoque: o da reforma tributária. Soraya afirmou sua intenção de isentar professores do imposto de renda. E disse que faria um novo programa de revisão de dívidas de empresários.

Luiz Felipe d’Avila 

O representante do Novo até tentou falar sobre economia, mas não conseguiu aprofundar as próprias ideias, gastando boa parte de seu tempo acusando o ex-presidente Lula de corrupção. Nos poucos momentos que citou seus planos, falou em diminuir drasticamente o Estado e vender todas as estatais.

Padre Kelmon

A presença do sacerdote do PTB é uma das provas de que a legislação eleitoral precisa ser revista com urgência. Hoje, qualquer partido com 5% de deputados na Câmara pode pleitear o direito de presença no debate. Sem nenhuma proposta para a economia padre apenas perguntou a Lula sobre corrupção, algo que o eleitorado de Bolsonaro queria que o presidente fizesse.