23/11/2025 - 9:00
O mercado de cannabis medicinal pode movimentar mais de R$ 1 bilhão a partir de 2026, de acordo com o mais recente relatório da Kaya Mynd, consultoria especializada no setor. Mas o foco da designer e artista Michele Farran foi no público potencial de quase 7 milhões de pessoas que podem fazer uso do produto ao abrir, em Curitiba (PR), a primeira farmácia especializada exclusivamente em cannabis medicinal.
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A Cannabis Company mais como propósito, já que Michelle passou a fazer tratamento com canabidiol (CBD) após ter sido diagnosticada com artrite reumatoide e sem encontrar alívio com tratamentos convencionais. Além disso, ela explica, os produtos medicinais com CBD até são vendidos em farmácias de grandes redes, mas nem sempre são fáceis de achar.
“Ter o medicamento para pronta entrega também é uma vantagem nossa. Além disso, o que eu quero é que a Cannabis Company a pessoa não só encontre seu medicamento, mas também acolhimento, para tirar dúvidas, ter esclarecimentos, conversar com nossa farmacêutica, que tem especialização neste que é um medicamento poderoso para pessoas que lidam com doenças crônicas”, diz Farran à IstoÉ Dinheiro.

Para abrir a farmácia, Farran conta que o projeto teve um tempo de maturação de um ano e meio e investimento inicial em torno de R$ 180 mil, “das paredes ao estoque”, feito em parceria com uma sócia-investidora.
A operação tem custos fixos mensais na faixa de R$ 15 mil e uma projeção de faturamento em torno de R$ 90 mil por mês, com margem bruta média de 38%. O estoque médio mensal gira em torno de R$ 30 mil brutos. Com uma operação que considera enxuta e escalável, Farran já considera, até mesmo, expansão do modelo.
Hoje e Cannabis Company tem seis laboratórios parceiros – Green Care, Green, Herbarium, Biofarma, Ease Labs e Prati-Donaduzzi – e atua com canabidiol feito da planta cannabis tipo sativa, que não possui efeitos psicoativos e atua no sistema endocanabinoide. Assim, tem efeito sobre a regulação da dor, do sono, do humor e da resposta imunológica. “A cannabis medicinal é sempre feita com a sativa”, explica.
Os laboratórios compram os insumos processados (e plantados) no exterior, a maioria nos Estados Unidos. Ao ser importado, deve passar pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) para certificação e testes antes de ir para o mercado (farmácias). O medicamento pode ser vendido em spray nasal – mais difícil de achar – e em óleo, administrado em gotas.
Pacientes que usam a cannabis medicinal tem a opção de importar diretamente, comprar via associações, ou em farmácias. É preciso ser prescrito por um médico, que dará receita azul ou amarela, uma vez que é um produto psicotrópico, de controle especial. A receita vai indicar a dosagem.

A cannabis medicinal é prescrita atualmente para casos de fibromialgia, Parkinson, epilepsia (com queda significativa nas crises), TDHA, depressão e ansiedade, manejo de dor para doenças reumáticas e neuropáticas, e alguns casos de espectro autista, como quando há episódios graves de agressividade.
Mercado em crescimento
A consultoria Kaya Mynd calcula que o mercado de cannabis medicinal no Brasil seja em torno de R$ 852 milhões, conforme levantamento de 2024. A projeção é que passe de R$ 1 bilhão em 2026. Pelo levantamento da Kaya, 33 empresas no Brasil detém 80% do mercado de importações de cannabis medicinal no país, mas a tendência é de que a concorrência aumente conforme cresce o número de pacientes e melhore avance a regulamentação na Anvisa para esse tipo de produto.
“Somente no primeiro semestre de 2024, foi registrada uma média de 425 solicitações de importação de cannabis por dia. Esse número é 16% maior do que o registrado no mesmo período do ano anterior”, aponta o anuário da Kaya.

Em 2024, o número oficial de pacientes soltou 56%, saindo de 430 mil em 2023 para 672 mil ano passado. Mas a Kaya destaca que esse montante representa 10% do potencial de quase 7 milhões de pacientes. “O mercado deve seguir em crescimento contínuo por mais alguns anos. Esse total é composto pela somatória da estimativa feita para as três principais modalidades de acesso aos produtos hoje no Brasil, até o final de 2024. No caso, não estão sendo consideradas milhares de pessoas que realizam o autocultivo medicinal ou que compram produtos do mercado ilegal com finalidades terapêuticas.”
