Todos os meses novas empresas de gestão de fundos de investimento se lançam ao mercado e caem na disputa pelo dinheiro dos mesmos clientes. Precisam competir com as grandes estruturas de distribuição dos bancos e com o excesso de empresas já estabelecidas no ramo. E enfrentam ainda a desconfiança natural que o investidor tem em relação a instituições financeiras pequenas. Problemas comuns a quase todas as gestoras independentes de fundos, mas que não valem para todos. Há uma empresa no mercado que está mais habituada a recusar investidores do que a correr atrás do dinheiro deles. A JGP, produto de uma cisão no Banco Pactual há dois anos e meio, cansou de se colocar nesse papel. Nascida já com prestígio alto herdado de seus fundadores, os banqueiros Paulo Guedes e André Jakurski, a empresa sequer aceitava aplicações até setembro passado. Executivos da área de private banking e distribuidores independentes de fundos pressionavam para ter o hedge fund da JGP na carteira, ao alcance de seus clientes. Eles venceram ? o fundo foi afinal aberto. Guedes, Jakurski e seus onze sócios na empresa não divulgaram o fato. Continuam avessos a publicidade. Mas o fundo, que tinha R$ 150 milhões na carteira quando havia sido fechado em definitivo, em agosto de 2000, passou rapidamente a um patrimônio de R$ 237 milhões.

O fundo, batizado singelamente como JGP Hedge, é um tipo de bicho raro em um mercado relativamente pouco complexo como o brasileiro. É um dos poucos que se apresentam abertamente como hedge fund ? os fundos arrojados que se movimentam por todos os mercados em busca do lucro. A má fama adquirida por alguns de seus mais conhecidos congêneres externos, como o quebrado LTCM, assusta investidores pouco familiarizados com o mercado. Guedes e Jakurski, à frente de uma equipe quase estelar de gestores de fundos, a maior parte saídos do Pactual, ignoraram isso. Confiantes no próprio trabalho, montaram o fundo inicialmente para gerir o dinheiro deles mesmos. Quando passaram a aceitar aplicações, deixaram claro que não queriam convencer ninguém a segui-los. Em nome do segredo de estratégia, o fundo simplesmente se recusa a revelar em que papéis aplica o dinheiro sob sua gestão. Quem entra no fundo vai no escuro, na base da confiança. Essa atitude bate de frente com tudo que é visto como mais moderno sobre gestão de recursos no Brasil. Mas eles não se importam. Dizem que o fundo é para clientes sofisticados. E exigem investimento mínimo de R$ 500 mil.

O segredo na aplicação do dinheiro obriga a maior parte dos bancos e distribuidores de fundos a deixar o JGP Hedge ainda fora da carteira de produtos que oferecem. ?É uma pena. Eu
colocaria dinheiro de clientes meus lá de olhos fechados?, diz Fernando Ganme, da Capital Administração de Recursos. A maior parte dos investidores, curiosamente, acaba sendo formada por profissionais de mercado que admiram o jeito de seus colegas trabalharem. Os gestores se consideram livres para operar em qualquer mercado e prometem apenas dar aos investidores um retorno superior ao dos fundos tradicionais de renda fixa e variável. Dizem-se também intolerantes a perdas. Passados 30 meses
do início de suas atividades, agora o fundo tem números para demonstrar o que propõe. Apesar de seu perfil agressivo de investimentos, não registrou ainda um só mês de rentabilidade negativa. E, em uma mostra de estabilidade, superou o rendimento do CDI em 24 dos 30 meses.