26/11/2014 - 21:23
Uma igreja, uma caminhonete ou um bar: o tradicional mundo da música country, ancorado na vida rural e conservadora dos Estados Unidos, está sendo abalado por revelações sobre a homossexualidade de alguns cantores.
Dois conhecidos nomes revelaram na última quinta-feira sua homossexualidade com poucas horas de intervalo. O primeiro, Ty Herndon, de 52 anos, é uma estrela desde os anos 1990, conhecido por suas músicas cristãs e românticas.
“Sou um homem gay fora do armário, orgulhoso e feliz”, disse Herndon à revista People.
Casado duas vezes, Ty Herndon reconheceu que lutava interiormente desde a infância para assumir sua homossexualidade. Agora tem um companheiro e garante ter se reconciliado sua fé e sua orientação sexual.
“Me sento na parte de trás da minha caminhonete, medito e falo com Deus”, declarou à revista.
Algumas horas mais tarde, inspirado pelo colega, outro jovem cantor, Billy Gilman, gravou suas declarações num vídeo postado no YouTube.
Uma declaração improvisada e ainda mais comovente que o anúncio de Ty Herndon. O cantor de 26 anos conta que “temia a morte” ao tornar pública sua preferência sexual, mas ficou tomou coragem após rumores sobre sua vida.
“Ser um cantor de country gay não é a melhor coisa” que já me aconteceu, diz o artista, cujos primeiros sucessos datam de 2000, quando tinha 11 anos.
“Se as pessoas não gostam da minha música, é diferente. Mas depois de ter vendido cinco milhões de discos e uma vida maravilhosa no mundo da música, compreendi que algo faltava quando nenhuma grande gravadora queria escutar meu novo material”, conta Gilman.
Garantindo que não se envergonha de ser gay, o cantor lamenta sê-lo “num gênero musical e um setor que têm vergonha de que eu seja quem eu sou”.
Ser abertamente gay tampouco foi simples em outros gêneros musicais. Elton John e George Michael, por exemplo, esperaram ser famosos para depois assumir publicamente sua sexualidade.
No mundo do hip hop o tabu continua sendo muito forte. Frank Ocean, que afirmou em 2012 que seu primeiro amor foi um homem, é uma exceção, e Jay Z elogiou sua coragem.
Mas a sociedade norte-americana evolui rapidamente na matéria. Casais do mesmo sexo podem se casar em 35 dos 50 estados, mais recentemente na Carolina do Sul, um estado conservador onde a música country faz parte da identidade regional.
A cultura country também não é uniforme. Dolly Parton, uma de suas figuras mais conhecidas, é adorado por seus fãs gays. Outras duas estrelas do country, Chely Wright e k.d. lang, são abertamente lésbicas.
A vencedora da canção country do ano foi Kacey Musgraves, por “Follow Your Arrow”, cuja letra sexualmente neutra alude o amor gay e a maconha, e pede que ignorem a opinião dos demais.
“Vocês se dão conta do que isso significa para a música country?”, perguntou Musgraves. A canção foi escrita com Brandy Clark e Shane McAnally, ambos abertamente gays.
Mas onde chegará Nashville, a cidade do Tennessee sede da indústria da música country?
Os empresários e pessoas influentes formam ali um microcosmos e para eles o objetivo são as mulheres de entre 30 e 35 anos, disse Joseph Brant, do jornal local LGBT, Out & About Nashville.
“Eles não são anti-gays. Mas tentam adivinhar qual é seu público-alvo”, afirma Brant, explicando que temem que essas mulheres não se apeguem muito a artistas homossexuais.
Ty Herndon e Billy Gilman são, certamente, grandes nombres, mas já o eram há muito tempo.
“Se eles saíssem do armário essa semana, ao mesmo tempo que o primeiro hit deles, todo o sistema iria por água abaixo”, disse Brant.