Apesar da cifra impressionante de US$ 4,5 trilhões registrados em subsídios a combustíveis fósseis no período de 2010 a 2020, dados da Agência Internacional de Energia (AIE) levavam a crer que os discursos dos líderes globais sobre uma efetiva transição energética começavam a surtir efeito: após dois anos em queda, eles chegaram ao nível mais baixo da última década em 2020, somando US$ 181,5 bilhões. Mas a coerência parece ter durado pouco.

Ainda sem números fechados, estudos preliminares da AIE indicam que os subsídios aos fósseis deram um salto de mais de 140% no ano passado, chegando a US$ 440 bilhões. A projeção da agência está alinhada às estimativas de produção futura do combustível nada ecológico. Segundo o Relatório sobre a Lacuna de Produção 2021, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e entidades parceiras, em vez de reduzir a produção para garantir a descarbonização do planeta, os governos planejam fabricar 110% mais combustíveis fósseis em 2030 do que seria compatível com o limite de aquecimento global de 1,5° C, e 45% mais do que seria compatível com o limite de 2° C. Tudo com apoio de recursos públicos.

Evandro Rodrigues

(Nota publicada na edição 1267 da Revista Dinheiro)