O termo capitalismo, concebido em sua origem pelo economista e filósofo Adam Smith (1723-1790), demonstra claramente que o sistema seria composto pela geração de riqueza e bens que o país pode gerar e, principalmente,  pelo índice de felicidade de seus trabalhadores. Ou seja, até o capitalismo em sua origem prega a distribuição de riqueza. 

Se uma empresa aumenta suas margens de lucro, parte dele deveria ser distribuído entre seus empregados, gerando assim um fluxo de distribuição de renda e felicidade. Entende-se que o trabalhador tem que ser recompensado pelo seu trabalho e não apenas para sua subsistência.

A desigualdade mundial atual é assustadora se olharmos para o 1% da população global que  detém a riqueza dos 99% restantes. De acordo com ONG Oxfam, da Inglaterra, o sistema capitalista, mesmo com seus individualismos de origem, foi piorando e tornando-se mais cruel ao longo do tempo.

Nós criamos bilionários que não têm nenhum interesse em distribuir sua riqueza com melhores recompensas salariais ou distribuições de lucros. Acredito que as margens de lucros das empresas deveriam ser limitadas e a diferença devia ser distribuída entre todos. Já está na hora de pensarmos em remédios para esta situação. 

Muito se discute sobre tributação das grandes fortunas ou renda universal. Eu particularmente sou a favor de ambos, uma vez que o sistema não se viu capaz de organizar e realizar essa distribuição.

O capitalismo prega a menor intervenção do Estado, mas esse capitalismo como foi concebido não conseguiu gerar condições de felicidade à classe trabalhadora, tampouco dividir a riqueza gerada.

Não somos contra os empresários. Pelo contrário: acreditamos no modelo, mas somos contra a acumulação de riqueza indispensável. Existe uma frase de Adam Smith que reforça minha argumentação: “Nenhuma nação pode florescer e ser feliz enquanto grande parte de seus membros for formada de pobres e miseráveis”.

Falando em noções de felicidade e equidade, Smith afirma em seu livro ‘Riqueza das Nações’: “Serviçais, diaristas e trabalhadores de diferentes tipos formam a enorme maioria de todas as grandes sociedades políticas… o que melhora as condições da maioria não pode nunca ser considerado como inconveniente para o todo. Certamente nenhuma sociedade pode ser próspera e feliz, da qual a enorme maioria dos membros seja de pobres e miseráveis. 

“Além disso, não é senão equidade que aqueles que alimentam, vestem e alojam o conjunto do povo devam ter uma fatia do produto de seu próprio trabalho tal que sejam eles próprios razoavelmente bem alimentados, vestidos e alojados”. (SMITH, 1976, p. 96)

Baseado no conceito acima, verificamos uma piora nas relações de trabalho com a introdução de aplicativos e o que chamamos de “uberização dos empregos”. Plataformas que remuneram seus colaboradores apenas por hora trabalhada, não instituindo nenhum direito trabalhista, seja ele previdenciário ou básico. 

Criamos uma nova servidão, na qual, para o sustento dos trabalhadores, eles vendem sua força de trabalho por horas, com baixa remuneração e sem nenhum direito. Essa nova modalidade de trabalho deve ser regulamentada urgentemente, incluindo minimamente a contratação via APP, seguro de vida, contribuição previdenciária de INSS – podendo ser via RPA – e melhores remunerações.

Não podemos deixar a classe trabalhadora à mercê destes trabalhos sem nenhuma garantia. Estamos criando uma geração de empregados sem qualificação, educação e ambição. Criamos a classe dos empregados de aplicativos que trabalham 12 horas por dia, sem nenhuma condição de crescimento, plano de carreira ou sensação de pertencimento. 

 

“O que vai gerar a riqueza das nações é o fato de cada indivíduo procurar o seu desenvolvimento e crescimento econômico pessoal”

Adam Smith

 

Resumindo: na realidade brasileira teríamos que promover empregos que geram felicidade a seus trabalhadores, portanto, empregos de cadeia produtiva. O Brasil é um dos países com a maior desigualdade mundial e só vamos conseguir mudar esse cenário com educação de base e qualificação. Além de condições mínimas de moradia e alimentação, reforma tributária, melhoria na entrega de serviços públicos, investimentos em ciências, tecnologia e crescimento econômico sustentável.

 

* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do IstoÉ.