Por Roberto Samora

SÃO PAULO (Reuters) – O lucro da Cargill no Brasil atingiu cerca de 2,1 bilhões de reais em 2020, alta de mais de cinco vezes ante o resultado líquido de 2019, com aumento nos preços das commodities agrícolas, câmbio favorável e forte demanda externa por alimentos em meio à pandemia, fatores que seguem agindo no mercado em 2021, disse o presidente da unidade brasileira.

Também colaboraram para a marca, em um ano em que a receita operacional líquida subiu 38%, para 68,6 bilhões de reais, os investimentos de 3,7 bilhões de reais que a companhia com sede nos Estados Unidos fez no Brasil nos últimos cinco anos, ampliando capacidade portuária e de infraestrutura para escoamento, destacou Paulo Sousa, em entrevista à Reuters para comentar os resultados.

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Ele destacou que a exportação de soja do Brasil pela Cargill aumentou 9% em volumes em 2020, enquanto os embarques de farelo de soja da empresa no país subiram 13% ante 2019, ajudando nos resultados da companhia, que tem 75% de suas vendas direcionadas para o mercado externo.

“De maneira geral, quando o produtor rural está contente em vender porque os preços estão bons, e quando os compradores estão contentes e querem comprar independentemente de o preço estar historicamente alto, isso tende a ser bom para nós, porque o mercado está valorizando o nosso serviço”, afirmou Sousa, que está à frente da empresa que lidera a exportação de soja e milho do Brasil.

Questionado sobre projeções para 2021, o presidente da empresa –que está entre os três maiores processadores de soja e é a segunda no ranking na exportação de algodão do Brasil– comentou que o cenário “tende” a ser positivo novamente, e ressaltou que a Cargill busca continuar crescendo junto com a agricultura brasileira.

A situação do mercado em 2021 guarda alguma semelhança com 2020, mas os preços internacionais estão ainda mais elevados neste ano, com a soja e o milho em máximas de oito anos na bolsa de Chicago, diante de preocupações com a oferta, como é o caso colheita de milho de inverno no Brasil, cujo potencial produtivo está menor em função do tempo seco.

“Agora, com a safrinha de milho tem um desafio climático grande, em Mato Grosso do Sul, Paraná, parte de São Paulo, Minas Gerais e Goiás”, comentou ele, ao responder questão sobre se a empresa tem preocupação com o cumprimento de contratos, considerando que parte dos produtores realizou fortes vendas antecipadas.

Ele também não acredita que isso possa trazer problemas para a entrega da segunda safra de milho, apesar da preocupação climática. Ele lembrou que o produtor brasileiro tem visão de longo prazo e sabe que, se não cumprir obrigações, pode ter problemas para negociar com as tradings nos próximos anos.

Sousa citou também o fato de que grande parte do investimento do produtor está centrado na primeira safra, como a de soja. E ainda minimizou descumprimentos de contratos da entrega da oleaginosa junto à Cargill ao ser questionado, afirmando que os problemas ficaram “dentro da média história”.

“Acreditamos na maturidade do produtor, e esperamos que mude o clima, tem muito chão pela frente (até a colheita da segunda safra de milho).”

Até o momento, de acordo com uma pesquisa recente da Reuters, a colheita total brasileira do cereal ainda está estimada em recorde acima de 107 milhões de toneladas, apesar do menor potencial produtivo da segunda safra.

RECOMPRA

As cotações do milho no mercado interno, que estão próximas de 100 reais por saca, impulsionadas também por um período de baixa oferta antes da entrada da segunda safra em junho, podem levar compradores internacionais a mudar sua estratégia, deixando a posição do milho brasileiro caso ele fique acima dos patamares negociados em outros destinos.

Eles poderiam recomprar contratos, citou Sousa, destacando que essa é uma operação normal.

“Isso aconteceu bastante no ano passado, junho e julho do ano passado, quando havia temor grande de que iria faltar milho”, afirmou ele, citando operações em que contratos de exportação foram recomprados.

“Isso permite que a gente volte a aumentar a oferta do milho do Brasil, se o mercado doméstico está pagando um prêmio contra exportação, vamos vender no mercado doméstico… o primeiro ponto é fechar a torneirinha da exportação”, afirmou o presidente da Cargill, também bastante ativa no mercado doméstico de milho.

 

(Por Roberto Samora; edição de Maria Pia Palermo)

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