A Carolina do Sul se prepara para retirar, da área da Assembleia Legislativa, a bandeira confederada, um símbolo do racismo para muitos nos Estados Unidos.

A medida se destina a promover a reconciliação, após um ataque no mês passado contra uma importante igreja para a comunidade negra, cometido por um supremacista branco.

Em uma votação durante a madrugada, após uma longa noite de debates, a Câmara de Representantes seguiu a decisão do Senado, concordando por ampla maioria em remover a bandeira de batalha confederada.

Por décadas, a bandeira teve um lugar de destaque na frente do edifício da legislatura.

A medida foi aprovada por 94 votos a favor e 20 contra – muito mais do que os dois terços necessários para a aprovação final.

Na noite passada, a republicana Jenny Horne fez um discurso emocionado e apelou pela retirada do “símbolo de ódio”.

“Não posso acreditar que, nessa Assembleia, não teremos a coragem de fazer algo significativo e suprimir nesta sexta-feira este símbolo de ódio”, disse Horne, à beira das lágrimas.

O mesmo projeto passou pelo Senado estadual na segunda-feira com uma votação de 37 a três.

O texto seguiu para a mesa da governadora da Carolina do Sul, Nikki Haley, que ratificou a legislação.

“Amanhã pela manhã (sexta-feira), às 10h (hora local), veremos a bandeira Confederada ser retirada”, declarou a governadora antes da assinatura da resolução.

“Vamos retirá-la com dignidade e fazer que seja colocada em um lugar indicado”, declarou Haley na cerimônia de ratificação, cercada de familiares das vítimas, na capital do estado. Agora, a bandeira deve ser transferida para um museu próximo à sede legislativa, dedicado à história do Sul.

Do lado de fora do prédio legislativo, policiais puseram barreiras ao redor da bandeira, nesta quinta. Até recentemente, a retirada deste símbolo era impensável nesse estado considerado o berço da Confederação.

O pavilhão está há 15 anos ao lado de um monumento que recorda a Guerra de Secessão (1861-1865), nos jardins do Parlamento de Colúmbia, a capital do estado.

Haley havia feito um apelo fervoroso para os legisladores aprovarem a medida após o assassinato de nove afro-americanos em 17 de junho na Igreja Metodista Episcopal Africana Emanuel, em Charleston.

“Este é um novo dia para a Carolina do Sul, um dia do qual devemos nos orgulhar, que reúne todos nós, enquanto tentamos nos recuperar do massacre de 17 de junho em Charleston”, escreveu Haley em sua página do Facebook.

Os pedidos de retirada da bandeira, considerada pelas associações de defesa dos negros um símbolo da escravidão, ganharam força depois que Dylann Roof, de 21 anos, um supremacista branco, matou nove afro-americanos em 17 de junho. Em fotos nas redes sociais, Roof aparecia ao lado da bandeira confederada.

A retirada da bandeira tem sido um assunto polêmico nos Estados Unidos desde o massacre, seja na política, na sociedade ou na economia, com vários distribuidores optando por não comercializar mais produtos com o emblema.

“Remover este símbolo do passado racista da nossa nação é um grande passo no sentido da igualdade e dos direitos civis na América”, reagiu nesta quinta-feira Hillary Clinton, pré-candidata democrata à Casa Branca.

Muitos parlamentares locais também comemoraram o resultado da votação.

“Demorou para acontecer, mas eu sempre acreditei que esse dia chegaria”, tuitou James Clyburn, membro da Câmara dos Representantes.

O pastor e senador local Clementa Pinckney, cujos colegas prestaram homenagem acolhendo sua viúva, estava entre as vítimas. Sua mesa foi coberta com um pano preto durante os dias de discussões.

Os poucos opositores da retirada da bandeira fizeram uma última tentativa no Senado evocando, antes da votação, a história do Sul.