08/03/2023 - 15:05
Embora o governo federal tenha surpreendido o Dia Internacional da Mulher com a promessa de uma lei para promover igualdade salarial entre homens e mulheres, o 8 de Março ainda mostra desafios para a equidade de gênero no mercado de trabalho.
Com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e do FGV IBRE – Instituto Brasileiro de Economia em mãos, a pesquisadora Janaína Feijó aponta quais as áreas e profissões têm maior presença das mulheres, além das diferenças salariais.
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“O que se evidencia é que as mulheres são maioria nas área de humanas. Conforme a tabela do INEP, que mostra a maior quantidade de pessoas formadas no nível superior nessas áreas foram mulheres. Pedagogia, Ciências Sociais, cursos de Licenciatura – atuando como professoras, por exemplo. Quando chegam ao mercado de trabalho, elas seguem nestas áreas e vão desempenhar funções a partir desses cursos”, explica Janaína.
Veja abaixo as áreas em cursos superiores em que mais prevalece a presença de mulheres, segundo o INEP:
Na área da Educação, podem atuar como professoras; na área de Enfermagem; na área de Bem-Estar, como esteticistas; nas Ciências Sociais e Comunicação, como jornalistas, produtoras de conteúdo ou pesquisadoras, entre outros.
Segundo Janaína, ao observar esses estudos, o lado oposto já tem prevalência de homens. “Quando vamos para área de Tecnologia, com profissões que o mercado tem mais procurado e remunerado melhor, há a predominância de homens”, afirma.
Esse efeito para as mulheres pode ser nocivo, segundo a pesquisadora. “Desde pequenas, meninas são incentivadas a se inclinarem para áreas de humanas e sociais, e está tudo bem entrar nessas profissões. Mas temos sub-representação em mulheres e cargos e profissões que o mercado demanda e remunera melhor”, argumenta.
Homens ganham 23,4% a mais que a mulheres com as mesmas características
Publicado pela FGV/IBRE nesta quarta-feira (8), o estudo Diferenças de gênero no mercado de trabalho mostra que, no comparando o 4º quarto trimestre de 2012 a 2022, os homens ganharam, em média, R$ 3.999, enquanto as mulheres receberam salário médio de R$2.416 – uma diferença de quase R$1.600.
Para amarrar melhor esses dados, Janaína optou pelo cálculo do gap por meio das diferenças de rendimento médio pode nos ajudar a ter uma ideia sobre a dimensão das disparidades salariais entre homens e mulheres de maneira mais acurada. “A melhor forma é através de estimações de modelos econométricos que nos permitam comparar homens e mulheres com os mesmos atributos produtivos e características socioeconômicas”, explica a pesquisadora.
Comparando indivíduos semelhantes – homens e mulheres com mesmo nível educacional, mesma profissão, mesma experiência, mesmo setor, mesma região, mesma raça, entre outros termos de atributos produtivos e características socioeconômicas, viu-se que a diferença média de salario entre os gêneros é de 23,4%.
Para Janaína, a lei da igualdade salarial promovida pelo governo pode ser positiva, mas demanda tempo. “Como a desigualdade de gênero tem muitas dimensões e, para gerar espaço plurais, temos que combater normas sociais e culturais. Não é algo que muda da noite pro dia: existe preconceito e muita dificuldade para a mulher se inserir no mercado de trabalho”, explica a pesquisadora.
“Toda hora que você vai procurar essa Lei, parece que ela já existe, mas tem tantas nuances, tantas vírgulas, que tudo é feito para a mulher não ter o direito. Então, é preciso uma lei que diga: a mulher deve ganhar o mesmo salário do homem se exercer a mesma função e pronto! Não tem vírgula! Se não pagar, vai ter que ter alguém para fiscalizar”, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no evento de reinstalação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).