14/11/2024 - 6:00
Para o CEO da Unidas, Cláudio Zattar, o negócio de carro por assinatura é ‘a bola da vez’. O executivo revela que a demanda tem aumentado e, além disso, a rentabilidade é vista como alta.
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A Unidas tem uma frota de 6 mil carros por assinatura, e as expectativas são de crescimento desse volume.
Zattar revela que o retorno sobre o capital investido (ROIC, na sigla em inglês) é o segundo maior das linhas de negócio da empresa, ficando atrás apenas do aluguel de veículos pesados.
“Não é nossa principal fonte de receita, mas estamos crescendo gradualmente. A demanda é muito grande, requer cuidados do nosso lado, somos conservadores para evitar maus contratos e inadimplência. O carro por assinatura é a bola da vez. [Os clientes] estão trocando a posse pelo uso”, relata Zattar, em entrevista ao site IstoÉ Dinheiro.
No terceiro trimestre de 2024 a empresa registrou lucro líquido de R$ 37 milhões, alta de 40% na base anual. O lucro operacional (Ebitda) fechou em R$ 203 milhões, crescimento de 77% ante igual período do ano anterior.
O segmento do negócio contribuiu para o crescimento da receita líquida consolidada, que já é de R$ 5 bilhões de janeiro a setembro de 2024, crescendo de 26% ante igual período do ano anterior.
No trimestre, foram R$ 1,8 bilhão de receita líquida, ante R$ 1,5 bilhão vistos no terceiro trimestre de 2023.
A principal fonte de receita da companhia segue sendo a venda de ativos, principalmente veículos seminovos, que gerou R$ 2,17 bilhões de receita nos primeiros nove meses do ano. Na sequência, vem o aluguel de veículos (R$ 1,44 bilhão na mesma janela) e a gestão e terceirização de frotas (1,38 bilhão), que inclui o negócio de carro por assinatura. Veja gráfico abaixo:
‘Vamos fechar 2024 no azul’
O CEO da companhia não dá um guidance, mas reforça que a expectativa é de fechar o ano no azul, com um lucro acumulado nos nove primeiros meses no ano estando em R$ 115 milhões.
A melhora do desempenho foi atribuída pela companhia à melhor margem EBITDA em todos os negócios de locação.
O negócio de aluguel de carros – chamado de rent a car no setor – representou uma receita líquida de R$ 489 milhões no terceiro trimestre de 2024, alta de 8% ante igual etapa do ano anterior.
De janeiro a setembro, essa fonte de receita trouxe R$ 1,4 bilhão aos cofres da companhia, crescendo cerca de 14% ante igual período em 2023.
Ao final de setembro, a empresa mantinha 168 lojas operando.
Modelo de negócio por assinatura
Os preços de um carro por assinatura variam de R$ 2 mil até pouco mais de R$ 4 mil.
O modelo mais barato disponibilizado pela companhia é o Fiat Argo Drive 2025, atualmente em oferta de Black Friday, com assinatura custando R$ 2.060,00 mensais em um contrato de 12 meses para um cliente que pretende rodar 1.000km.
Os valores variam conforme o tempo do contrato (24 ou 36 meses) e a quilometragem (que vai até 2.500km). Com o contrato de 36 meses e a quilometragem máxima a assinatura do modelo custaria R$ 2.618,99 mensais.
O mais caro é o Jeep Compass Longitude 2025, com contrato custando R$ 4.110,00 mensais para 12 meses e 1.000km. No contrato mais extenso e com quilometragem maior, assinatura seria de R$ 5.105,99.
‘Carro está caro hoje em dia’
Zattar frisa que o mercado está mais aquecido, já que embora o mercado de novos e seminovos tenha mostrado depreciação, o valor nominal de um carro ainda é relativamente alto perante o poder de compra do brasileiro – o que torna a assinatura mais palpável.
“Ninguém voltou a comprar carro simplesmente porque carro está caro hoje em dia”, explica.
Modelos populares, de fato, possuem preços acima dos R$ 50 mil. Como exemplo, conforme preço do site oficial da Renault, um Kwid 0km custa cerca de R$ 63 mil estando em oferta – fora destas condições, custa na casa dos R$ 75 mil.
Aliás, ao realizar uma cotação de compra, a própria montadora já oferece seu serviço de carro por assinatura – chamado de ‘Renault on Demand’. O preço cobrado é de R$ 2,3 mil em um plano de 36 meses para 1.000km.
Depreciação ainda ‘machuca’ locadoras
Zattar relata que, apesar do crescimento de lucro e de receita, a companhia – assim como seus concorrentes – ainda sofre com a depreciação do preço de carros.
No ano de 2023 o segmento sofreu com a Medida Provisória nº 1.175, que trouxe um desconto no IPI do carro popular. A MP caiu em meados de agosto do ano passado, mas segue tendo impactos na indústria.
“O bônus, o desconto praticado pelas montadoras, foi uma prática que seguiu. A MP não aconteceu nesse ano, mas o efeito nos seminovos segue. As montadoras seguem com um preço subsidiado e mais baixo para o varejo”, comenta.
Nesse contexto, o preço de carros seminovos também cai, sendo forçado para baixo com o reajuste nos carros 0km, dado que não seria viável vender um seminovo com um preço tão próximo de um carro zero.
“A distância de preço entre um novo e um seminovo fica entre 8% e 9%. Se o novo cai, o seminovo cai também”, explica Zattar.
Nesse cenário, a rentabilidade de companhias do segmento tem recuado – ao menos nesse nicho em específico.
Frota de pesados impulsiona Unidas
Com a depreciação dos seminovos, a Unidas tem contornado a situação ao aumentar sua fonte de receita vindo de veículos pesados, segmento que cresceu neste ano e deve manter um protagonismo dentro das demonstrações financeiras da companhia.
O CEO da Unidas explica que os contratos são mais longos – indo de 4 a 7 anos – e que esse nicho não sofre com efeito de depreciação, como é o caso dos seminovos.
“Não somos tão alavancados como concorrentes em carros, então nosso resultado está vindo com boa performance. Nós hoje não dependemos tanto dos carros seminovos em grande parte porque somos uma plataforma diversificada. Optamos por crescer [nos pesados] por conta do retorno, esse segmento é nossa prioridade hoje”, explica.
O executivo revela que 38% das receitas da companhia vem desse nicho, que inclui caminhões, reboques, tratores e veículos análogos.
Menos dívidas na praça
A alavancagem da empresa é de 3,6 vezes o Ebitda. A companhia não possui um guidance para reduzir esse patamar, mas Zattar revela que os planos da gestão são de reduzi-lo paulatinamente ao menos até o fim do ano de 2025.
“Estamos em processo de desalavancagem mesmo estando abaixo das covenants. Não temos riscos nem problemas hoje, mas temos uma disciplina muito grande com isso, e queremos desalavancar ainda mais até o fim do ano que vem”.