26/06/2001 - 7:00
Nunca, na centenária história da indústria automobilística, os veículos foram tão seguros, tão velozes, tão charmosos como hoje. Um ponto de interrogação, porém, continua a aparecer sempre que o futuro do setor é discutido: quando a gasolina será substituída por um combustível absolutamente limpo, sem emissões de gás carbônico? É verdade que, se comparado a 50, 30 ou 10 anos atrás, a fumaceira dos carros diminuiu muito, mas não o suficiente para eliminar os riscos à camada de ozônio ou à saúde das pessoas nos grandes centros urbanos. Na semana passada, no Hotel d?Evreux, localizado na sofisticada Place Vendôme, em Paris, a PSA Peugeot Citroën reuniu a imprensa mundial para anunciar que já tem resposta para essa questão. Lá, no pátio do belo edifício construído no século passado, a empresa apresentou os primeiros protótipos dos carros movidos a hidrogênio. Nada pode ser mais limpo. Dos canos de escapamento desse veículo só sai vapor d?água.
A notícia é boa, mas seria melhor ainda se o próprio presidente mundial da empresa, Jean-Martin Folz, não tivesse informado, na ocasião, que os primeiros exemplares dessa espécime chegarão às ruas apenas em 2010. Produção em série, então, só a partir de 2020. ?Nosso objetivo é mostrar que essa tecnologia existe, é dominada, mas ainda depende de avanços tecnológicos que a tornem viáveis?, disse ele. Embora Folz não diga, ele quer manter a imagem da Peugeot Citroën, sexta maior montadora do mundo, como pioneira na busca por combustíveis alternativos. No próximo ano, por exemplo, a empresa iniciará a comercialização de veículos híbridos, movidos a energia elétrica e a diesel ou gasolina. Até 2004, terá três famílias desses produtos nas concessionárias. As perspectivas para os carros de hidrogênio não são tão promissoras. Na verdade, há mais dúvidas do que certezas em relação a eles. Um dos principais entraves encontra-se no custo da chamada célula combustível. O equipamento armazena hidrogênio e gera a energia elétrica que alimentará o motor do veículo (observe a ilustração acima). Hoje, seu preço atinge cerca de US$ 100 mil, o que torna impossível transformá-lo em alternativa de combustível. Outro problema: o peso. A célula acrescentaria cerca de 100 quilos ao veículo e colocaria em xeque sua segurança, pois o hidrogênio é inflamável. Por isso, a melhor solução para os dois obstáculos seria a geração do gás no interior do próprio carro. ?Assim ele só seria produzido na medida em que fosse consumido, evitando a estocagem?, diz Pascal Hénault, vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento da Peugeot Citroën.
A solução desses problemas, na verdade, encontra-se nos laboratórios dos fabricantes de autopeças. ?Não estamos trabalhando no desenvolvimento da pilha, uma tarefa que pertence às companhias de autopeças. Nosso desafio é buscar soluções para integrá-la ao veículo?, diz Folz. Mesmo assim, Folz e sua equipe terão muito trabalho pela frente. O desempenho do veículo a pilha de célula de hidrogênio está longe do das atuais máquinas que circulam pelas ruas e estradas (leia o quadro ?Limpo, mas lento?). Por isso, segundo Folz, os primeiros modelos a circular com o novo combustível deverão ser utilitários de uso basicamente urbanos, destinados à entrega de mercadorias. Enfim, vai demorar, mas você ainda terá um carro ecológico.