O carro ia de mansinho. Lentamente, percorria o trajeto entre o Senado e o Palácio do Planalto, em 1o de janeiro, dia da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Eufórico, Lula agitava as mãos para uma multidão que, quase incontrolável, buscava contato com o novo presidente. Os seguranças bem que tentavam mas não tinham fôlego para acompanhar o charmoso e imponente Rolls Royce modelo Silver Wraith 1953. A saída foi subir no estribo do carro. E lá iam todos: o presidente Lula, o vice-presidente José Alencar, o motorista Mário Paulino de Souza e uma entourage de seguranças dependurados no Rolls Royce. O entusiasmo da população, que tentava furar o cerco, fez com que a segurança pessoal de Lula mudasse o trajeto. Desviaram para a garagem do Senado e, por incrível que pareça, o maior obstáculo não era mais a multidão e sim uma pequena rampa. O carro falhou, engasgou e cobriu de fumaça o rosto do presidente. Situação embaraçosa, principalmente para um carro cujo seguro é estimado em US$ 400 mil. Os guarda-costas tiveram de descer do estribo para empurrá-lo. No mesmo dia, há vários quilômetros dali, outro político, o governador eleito de Minas Gerais Aécio Neves, ao lado de sua filha Gabriela, vivia situação semelhante a caminho da posse do governo de seu Estado. Ele entrou no suntuoso Cadillac 1953, usado por Juscelino Kubitschek na posse presidencial de 1956, para se deslocar da Assembléia Legislativa de Minas até o Palácio da Liberdade, sede do governo. O automóvel simplesmente pifou.

Enquanto os carros oficiais brasileiros foram protagonistas de cenas constrangedoras, em países como Inglaterra e Estados Unidos isso seria impensável. O automóvel da rainha Elizabeth II, da Inglaterra, por exemplo, reflete a sua personalidade aristocrática. Trata-se do Bentley Arnage Royal, uma jóia de US$ 15 milhões dada de presente à rainha pela montadora de veículos superluxo em comemoração a 50 anos de reinado, o chamado Jubileu de Ouro. Entregue em março de 2002, o projeto do veículo recebeu o codinome diamante. Não é para menos. O carro blindado de 400 cavalos de potência suporta campos minados, mísseis de bazuca e conta com uma cabine vedada contra ataques com gases químicos. DVD e TV? ?Não é preciso?, disse a rainha para os designers da marca. O item indispensável é um banco ajustável, regulado de acordo com a altura do passageiro. Deste modo, se a rainha sentar-se ao lado de uma pessoa de 2 metros de altura ela ficará no mesmo patamar de seu convidado pois o banco do ?gigante? declinará com um toque em um botão. Apesar de toda segurança do Bentley Arnage Royal, Elizabeth é seguida a passos largos por agentes da Scotland Yard, polícia inglesa.

O mesmo acontece com o presidente dos EUA, George W. Bush, que é acompanhado pelos agentes do FBI e da CIA. Bush desfila em um Cadillac De Ville 2001, também um mimo dado pela GM, a fabricante da máquina. Todo blindado, há espaço para sete pessoas e conforto de sobra. Apetrechos tecnológicos também não faltam. Seu farol é dotado de raios infra-vermelhos que permitem ao motorista guiar sem o uso de luzes.

Que os automóveis da Presidência brasileira e o do governo de Minas não assemelham-se, nem de longe, aos dos chefes de Estado como Elizabeth e Bush, todos sabem. Porém, poderiam ter poupado o presidente Lula e o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, do constrangimento. É difícil entender o que houve com o Rolls Royce presidencial. O carro, ao contrário do que dizem, não foi presente da rainha Elizabeth II da Inglaterra, e sim comprado por Getúlio Vargas. Há apenas um ano, passou por uma reforma, oferecida pela própria Rolls Royce para o governo brasileiro. O trabalho ficou a cargo da brasileira R&E Restaurações. ?Restauramos a lataria, pintura, estofado, tapetes e painel?, disse à DINHEIRO Eduardo Lambiasi, dono da empresa que enviava relatórios mensais para a Rolls Royce. A explicação para a falha? ?Não restauramos a parte mecânica, somente fizemos a manutenção?, diz Lambiasi.