O bilionário Warren Buffett, que está entre os 10 homens mais ricos do planeta, segundo ranking da Forbes, publicou a carta anual aos acionistas da Berkshire Hathaway, holding da qual é diretor e tem participações em dezenas de empresas pelo mundo. Nela, o empresário traça uma visão otimista sobre a economia nos Estados Unidos, além de criticar as manipulações de resultados por empresas, o que foi visto como uma referência ao caso Americanas e seu rombo contábil que fez suas ações despencarem mais de 90% nos últimos dois meses.

“Esse tipo de prática é nojenta. Manipular números não necessita de talento. Só é preciso ter um profundo desejo de enganar. Contabilidade criativa ousada, como um CEO descreveu esse tipo de prática, é uma das maiores vergonhas do capitalismo”, afirmou Buffett sobre o assunto na carta.

Embora o empresário e megainvestidor não tenha ligação direta com a Americanas, ele já realizou negócios com Jorge Paulo Lemann e os outros integrantes da 3G Capital, uma das principais acionistas da Americanas. Com Lemann, no entanto, sua relação é mais antiga, desde 1990 quando ambos eram conselheiros na Gilette. Por conta disso, a crítica foi vista por alguns especialistas como um puxão de orelha nos envolvidos na suposta fraude, já que alguns empresários, inclusive Lemann, são investigados.

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Economia dos EUA

A carta de Buffett trata também de algo mais próximo da sua realidade: a atividade econômica dos EUA e seu otimismo. Ele acredita que, apesar dos obstáculos atuais ligados à inflação, guerra comercial com a China e demissões em massa em setores como o de tecnologia, o país já demonstrou que é capaz de superar esses e quaisquer outros obstáculos que surjam.

“O dinamismo dos Estados Unidos deu uma enorme contribuição para qualquer sucesso que a Berkshire tenha alcançado”, afirma Buffett, que tem 92 anos. “Eu tenho investido por 80 anos, que é mais de um terço da vida do nosso país. Apesar da propensão – quase entusiasmo – de nossos cidadãos à autocrítica e à dúvida, ainda não vi um momento em que fizesse sentido fazer uma aposta de longo prazo contra os Estados Unidos.”

O bilionário também aproveita para dar algumas lições básicas de economia e investimentos, afirmando que não faz sentido focar nas instabilidades pontuais pelo caminho – como a inflação atual -, já que elas devem ser superadas por empresas que são sólidas e eficientes.  Dentre os investimentos que a sua holding realizou, ele destaca sua atuação na Coca-Cola.

“Em 1994 a Berkshire completou sua compra ao longo de 7 anos dos 400 milhões de ações da Coca-Cola. O custo total foi de US$ 1,3 bilhão e o dividendo que recebemos em 1994 foi de US$ 75 milhões. Em 2022, subiu para US$ 704 milhões”, diz o empresário, mostrando como tem mantido um portfólio lucrativo ao longo dos anos focando no longo prazo. Ele também tem fez uma autocrítica: “esses ganhos com dividendos, apesar de agradáveis, estão longe de ser espetaculares, mas trazem ganhos importantes nos preços das ações”, conclui.

Projeções

Para Buffett, o futuro promete ser difícil, mas ele acredita na capacidade de recuperação da economia dos EUA. Ele cita o déficit público americano, de cerca de US$ 12 trilhões, mas não vê motivos para se preocupar com esse valor. “Embora economistas, políticos e muitos do público tenham opiniões sobre as consequências desse enorme desequilíbrio, Charlie [seu parceiro de negócios] e eu acreditamos firmemente que as previsões econômicas e de mercado de curto prazo são mais do que inúteis. Nosso trabalho é administrar as operações e finanças da Berkshire de uma maneira que alcance um resultado aceitável ao longo do tempo e que preserve o poder de permanência inigualável da empresa quando ocorrerem pânicos financeiros ou graves recessões mundiais”.