16/07/2008 - 7:00
NAS ÚLTIMAS DÉCADAS, a classe média brasileira elegeu alguns produtos como sonhos de consumo: o carro zero-quilômetro, o telefone celular, o aparelho de DVD e, mais recentemente, a tela de plasma. Mas, se depender do empresário Leonardo Senna, ex-sócio da montadora Audi no Brasil, o próximo alvo de cobiça dessa camada da população brasileira será a casa inteligente. Senna, dono da empresa Innovative House ou apenas iHouse, pretende vender um pacote de produtos tecnológicos a preços mais “acessíveis”. “Por enquanto, trabalhamos no mercado de altíssimo padrão, com apartamentos que custam em média R$ 2 milhões”, diz Senna. Nessas residências, o cliente encontra portas que abrem por meio da leitura da impressão digital, banheira de hidromassagem e ducha controladas pelo celular, a intensidade da luz programada, cortinas que abrem e fecham automaticamente e uma série de equipamentos digitais que fazem a casa parecer com o lar dos Jetsons, o famoso desenho de Hanna-Barbera que retrata o cotidiano de uma família do futuro. “Agora, também vamos vender um pacote menor para apartamentos que custam cerca de R$ 500 mil.” Enquanto em uma residência de alto padrão o conjunto de aparelhos sai por R$ 100 mil, nos apartamentos de classe média custará cerca de R$ 15 mil. “Vamos vender um pacote mais modesto, sem a banheira, mas com serviços diferenciados”, diz Senna.
A idéia é aproveitar o aquecimento do mercado imobiliário para ganhar escala e baratear a tecnologia. “Depois de 20 anos estagnado, o setor de imóveis voltou a crescer muito, ainda mais na classe média”, diz Romeu Chap Chap, presidente do conselho consultivo do Secovi São Paulo. Os números envolvidos em financiamentos imobiliários ajudam a entender esse fenômeno. Dados do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo mostram que, em 2007, foram emprestados R$ 18,3 bilhões para a compra de imóveis em todo o País – 96% a mais do que em 2006. “As construtoras começaram a atender melhor o segmento de médio padrão em 2007”, diz Luiz Paulo Pompéia, diretor da Embraesp, empresa de consultoria imobiliária. Para pegar carona na expansão do setor, Senna arrumou a “casa”. No fim do ano passado, transferiu a sede da iHouse, que ficava em pequenas salas comerciais no bairro do Itaim, em São Paulo, para uma casa de 400 metros quadrados também no Itaim. Mais: no primeiro semestre do ano, contratou um diretor comercial e ampliou a equipe técnica. “Desde 2003, investimos R$ 15 milhões”, diz Senna. Nesse meio tempo, vendeu projetos para 15 prédios que somente agora estão sendo entregues. “Estávamos na fase de desenvolvimento de produtos, testando os fornecedores e o mercado. Agora estamos prontos.” Prontos, é verdade, para colher o retorno dos investimentos. Só com o condomínio Riserva Uno, um luxuoso empreendimento de 220 apartamentos, que será entregue no segundo semestre, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, a iHouse vai faturar R$ 12 milhões. Ainda há projetos em São Paulo, Alagoas, Aracaju e Manaus.
Há quem enxergue a casa inteligente como algo supérfluo, mas as construtoras que vendem o projeto na planta vislumbram um diferencial de mercado. “Tivemos clientes que compraram o nosso produto e não o da concorrência por causa dos equipamentos da iHouse”, diz Fábio Romano, diretor de incorporação da Gafisa para São Paulo. Isso, é bom salientar, no mercado de alto padrão. No setor de médio padrão, com apartamentos de R$ 500 mil, a Gafisa já está preparando projetos alternativos. “Pretendemos vender as unidades com, pelo menos, a porta de entrada com leitura de impressão digital e deixar a estrutura pronta para quem quiser instalar outros produtos no futuro”, diz Romano. A fechadura com leitura biométrica, diz Romano, é o que mais agrada aos clientes. Por meio dela, é possível programar as pessoas que podem entrar no apartamento, saber em qual horário chegaram e até proibir o acesso em dias predeterminados. Se alguém encostar o dedo no leitor no dia que não é permitido, um alarme é acionado. “Esse produto custa cerca de R$ 2 mil, mas queremos barateá-lo ainda mais”, diz Romano. A julgar pelo que aconteceu com a tela de plasma, não é algo impossível. Basta ver que, no início da década, uma tela de 42 polegadas chegava a custar R$ 15 mil e hoje é possível encontrar aparelhos por R$ 3 mil.
Ao mesmo tempo que trabalha para tornar a tecnologia mais acessível, Senna continua a explorar o alto luxo. Em parceria com a Intermarine, fabricante de lanchas e iates, ele passou a vender os equipamentos da iHouse adaptados ao mundo náutico. A banheira SmartHydro, que pode ser acionada pelo celular, foi instalada no deck superior da lancha 760 Full; o chuveiro desliga automaticamente se a água doce estiver acabando; e o motor do barco pode ser visualizado por meio do celular. Ou seja, é possível descobrir se o barco está na água mesmo se o dono estiver bem longe do litoral. “Está sendo muito bem-aceito pelo mercado”, diz Allyson Yamamoto, gerente de marketing da Intermarine. “É uma tecnologia que pode ganhar mercado no Exterior.” Tanto para barcos como para casas. Por isso, em agosto, Senna parte para os Emirados Árabes, onde estão concentradas 30% das gruas do planeta. “Já tenho algumas reuniões agendadas com grupos interessados na tecnologia da iHouse”, diz Senna. “Em breve, abriremos uma subsidiária para atender Dubai e Abu Dhabi.